sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A Palavra É: 18) Brisa

De Vladimir Kush
Assisti com prazer a Observar e Absorver, documentário tão necessário de Júnior SQL que me arrepiou a pele e me impeliu a jogar palavras mil na parede imaginária da rede. Mas, pra ser sincero, o que deu ímpeto ao lero foi um detalhe quase besta que me garantiu o talhe pra esculpir esta. Mas, antes, preciso não ser conciso pra explicar a grama em que piso, aliás, pisei, pra chegar aonde ainda não cheguei. Epa rei! E é até engraçado que o entrevistado desse documentário, um sujeito que de otário não tem nada e que se enquadra feito círculo num quadrado, tenha sido batizado com o nome de Eduardo, sobrenome Marinho, o mesmo dos donos daquela organização que tem a satisfação de rimar globo com fazer o polvo de lobo.

Mas deixemos o plim plim, que este é outro Marinho e seu caminho tem outro fim, assim como outros meios, que acertam o coração dos sensíveis em cheio. Mas não vou falar do cara, peça rara (dessas que não foram feitas em série) solta na intempérie, que também pode ser visto como um pária porque seu valor não tem medidor na conta bancária. Quem quiser saber mais sobre esse Eduardo, meio doido, meio bardo, como, aliás, costumam ser esses seres que se destacam (ou destoam) dos demais, clique neste link e brinque com as possibilidades do pensamento – como faz o vento. O que me fez dar nas palavras coceira foi uma quase bobeira: esse Marinho teve o despropósito (ou terá sido o carinho?) de dar a uma filha uma espécie de nome-maravilha: Brisa!

Brisa! Caralho! Parece até ato falho! Um nome que veste a camisa, que dança com o orvalho, que anda pela mente dos dementes e outros inconsequentes por novos atalhos, de quem surfa sem prancha, de quem se desmancha e se dá o direito e o desplante de não ter que fazer direito, mas sim o que pede o peito, de ser voz dissonante, de quem prefere respirar o ar rarefeito ao poluído, de quem só dá ouvidos aos sussurros e assovios das correntes de ar, de quem dá murro no vazio só pra ver (e olhar) como é que o invisível geme e o indizível perde o leme. Palavra tão substantiva, locomotiva sem trilho, mãe dos filhos de ninguém que vão nesse trem cujo maquinista é um alquimista que sabe transformar pedra em nada filosofal.

A brisa é a tal! Amiga de poetas e maconheiros, perdedores e derradeiros, e outros fuleiros, e outros fulanos, aqueles que não creem em perdas e danos e voam alto em seus aeroplanos imaginários – e reais pra caramba! Essa palavra dá samba! E dá verbo: brisar é soberbo! Quem nunca brisou jamais viveu; pode até saber mais do que eu e de quem brisa, mas sabe só onde pisa e quando desvia escorrega. Já quem brisa, embora siga às cegas, não tropeça, a verdade é essa. De brisa, todo ser humano precisa, seja em dias de calor ou noites de rancor. A brisa dá leveza contra a incerteza, põe o coração a bater com imprecisão ao ritmo do ser que é e de sua fé no seja lá o que Deus quiser. O resto é marolinha.

Mas esta não é uma verdade minha; tá escrito em camisas e muros que viver de brisa é o futuro dos duros e malpagos, dos que precisam de tragos pra engolir o porvir e os porquês, ou seja, eu e (alguns de) vocês, nós, os sós e bem-acompanhados, visto que estamos por todos os lados. A brisa é divina, faz parte da natureza, ensina e dá clareza, ajuda a enxergar no escuro e a cegar no claro, é farol e faro pro barco que traça um arco (né, Chico?) rumo ao porto inseguro, sem prumo, mas no esconjuro das tempestades, sem vaidades que não sejam a de desbravar males bravios e rios de risos, porque navegar é pré-siso, viver não é só dízimo. Lá no íntimo, todo mundo sabe que, antes que o mundo acabe, há que, ao menos uma vez, viver vida de reis, viajar na maionese.

Em que pese a opinião dos contras, dos mantras, dos pilantras que cavalgam lontras de metal e se julgam acima do bem e do mal, mas que, infelizmente (pra eles), se encontram em condição tal que não lhes permite ser mais que gente, apesar do "você sabe com quem está falando" que soltam de vez em quando na conta de algum desmando. Porque só quem brisa, mesmo que vá a pé, voa – e aterriza. Só quem não sabe pr'onde vai chega mais depressa, pois saca que a hora é essa, de divagar, deixar o vento dar a direção (e a distração), que a vida é curta, e torta, e quem vai sempre em linha reta surta ou apenas se comporta, se conforma com as normas, aceita o fardo (e o dardo), se rende (ou se vende), enquanto espera o "the end" – se é que você me entende.

Contudo (e sem nada), aquém da brisa há minha tia Albaniza; quem não sabe fazer baliza; o ateu que nos catequiza; quem não vai além da divisa; o escravo que escraviza; quem entra numa frisa; o sabe-tudo que generaliza; o gentil(i) que hostiliza; o que lê, mas não improvisa; o juízo e a juíza; quem mente com a cara lisa; quem liga pros pedalinhos de dona Marisa; quem prega e quem narcotiza; o profissional que otimiza; os porquês de não haver uma papisa; a queixosa (que fugiu da rima); o esperto que erra e o besta que revisa; o sem-graça que satiriza; o salvador que tiraniza; a língua que universaliza; quem paga com Master e quem prefere Visa; a esposa do xis, a xisa (ui!); o zelote e a zelosa; etc. Pra finalizar, e jogado ao azar, acrescento apenas que se tu me condenas o fazes em vão. Afinal, num texto sobre tal temática, querias uma equação matemática?


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PS1: Sim, mas uma vez fui eu quem escolheu a parola. Mas ela é uma brisa, mora?

PS2: Trilha sonora: Caetano Veloso, Eu e a Brisa (Johnny Alf)



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PS3: Mudei de ideia e resolvi trazer mais esse lobo pra minha alcateia:


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