Desde James Dean e Marlon Brando, passando por Elvis Presley, Jack Kerouac e Che Guevara, a rebeldia tem encantado gerações de jovens, que já tiveram o rock como instrumento, as drogas, a revolução sexual com o movimento hippie, o engajamento político e mesmo a literatura. No entanto, os anos se sucedem e a rebeldia vai amansando, amansando, até que, sem que se perceba, o rebelde, o lobo mau, tira sua máscara de lobo e revela sua verdadeira face, a de cordeiro. Quando se vê no espelho, “aquele garoto que ia mudar o mundo” não reconhece mais o cabeludo de ideias revolucionárias. A cabeleira deu lugar a uma digna calvície; o abdômen delineado expandiu-se até se transformar numa simpática barriguinha de chope; a velha calça jeans surrada foi aposentada, sendo rendida por um traje respeitoso envolto por um laço; a tão adorada guitarra foi escondida num porão, ou vendida, pra ajudar na prestação do apartamento; enfim, não restou nada daquela rebeldia. Com mulher e filhos que dependem de seu desempenho profissional, suas ideias chegam mesmo a se posicionar um tanto à direita, preza a tradição e os bons costumes, e, de quando em vez, expurga suas frustrações num balcão de bar ou no colo de uma amante.
Isso não é uma crítica. É uma constatação. E o que se deu deu-se com outrora jovens que possuíam um mínimo de educação e cultura, que liam Dostoiévski e Marx, que já gritaram “É proibido proibir”, que lutavam por ideais coletivos. Ou seja, o visual fazia parte de um conceito, de uma ideologia, estava diretamente ligado à palavra. E ainda assim não vingou. Por essas e outras, vejo com descrença a rebeldia de hoje, uma rebeldia vazia, de plástico, puramente estética. Vejo jovens de visual extravagante cujo discurso não passa de um cacoete vocal, como num disco riscado repetindo meu-tipo-tipo-tipo-meu-tipo-tipo-tipo-caaara ad infinitum. “A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante” na qual todos são belos, felizes e eternos (enquanto duram). E egoístas. Namorando no assento reservado aos idosos com os pés estabanadamente espichados sobre o assento à frente. Esses mesmos jovens que vão ser nossos médicos, advogados, engenheiros, governantes... Não sem antes aprontar muitas na “facul”, de trotes a bebedeiras, com o devido patrocínio dos rebeldes de outrora: seus pais.
Quanto mais penso, menos chego a uma saída. “Não me iludo. Tudo permanecerá do jeito que tem sido”. O que parece é que o maestro tem os músicos sob controle, e até as desafinações e as quebras de ritmo não são caracteres alheios à partitura. Tudo está a serviço de um propósito, todas as peças estão dispostas num mesmo tabuleiro, cada qual com sua função, tendo, obviamente, os peões à frente. E a finalidade é sempre a de derrubar o rei, nem que pra isso seja necessária a perda de um cavalo ou um bispo (mortos os peões).
Finda a partida, nova partida começa. Com outras peças. E as mesmas regras. Rei morto, rei posto. Vida longa ao rei!
Isso não é uma crítica. É uma constatação. E o que se deu deu-se com outrora jovens que possuíam um mínimo de educação e cultura, que liam Dostoiévski e Marx, que já gritaram “É proibido proibir”, que lutavam por ideais coletivos. Ou seja, o visual fazia parte de um conceito, de uma ideologia, estava diretamente ligado à palavra. E ainda assim não vingou. Por essas e outras, vejo com descrença a rebeldia de hoje, uma rebeldia vazia, de plástico, puramente estética. Vejo jovens de visual extravagante cujo discurso não passa de um cacoete vocal, como num disco riscado repetindo meu-tipo-tipo-tipo-meu-tipo-tipo-tipo-caaara ad infinitum. “A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante” na qual todos são belos, felizes e eternos (enquanto duram). E egoístas. Namorando no assento reservado aos idosos com os pés estabanadamente espichados sobre o assento à frente. Esses mesmos jovens que vão ser nossos médicos, advogados, engenheiros, governantes... Não sem antes aprontar muitas na “facul”, de trotes a bebedeiras, com o devido patrocínio dos rebeldes de outrora: seus pais.
Quanto mais penso, menos chego a uma saída. “Não me iludo. Tudo permanecerá do jeito que tem sido”. O que parece é que o maestro tem os músicos sob controle, e até as desafinações e as quebras de ritmo não são caracteres alheios à partitura. Tudo está a serviço de um propósito, todas as peças estão dispostas num mesmo tabuleiro, cada qual com sua função, tendo, obviamente, os peões à frente. E a finalidade é sempre a de derrubar o rei, nem que pra isso seja necessária a perda de um cavalo ou um bispo (mortos os peões).
Finda a partida, nova partida começa. Com outras peças. E as mesmas regras. Rei morto, rei posto. Vida longa ao rei!
Amigo Léo,
ResponderExcluirÉ simplesmente delicioso lê-lo. Está além dos julgamentos que faz. O seu olhar pelos dedos saem suaves pelas coisas com desvelares surpreendentes, ou não, mas uma graça gostosa, de quem não quer fazer graça, mas goza. Legal demais ver esta sua vertente tão boa. Já que anunciado que não há contrato (ainda), vai o parabéns por sua marginalidade saborosa.
Abração
Hahaha! Maravilha de comentário, Érico! Tivesse chegado mais cedo, poderia ser um bom título pra blog: Marginalidade Saborosa!
ResponderExcluirQuanto a meus julgamentos, entenda-os mais como "impressões do dia", visto que estou (estamos todos) em constante mudança. No meu caso, em particular, cada dia a menos de vida é uma dúvida a mais, então escrevo pra jogá-las (as dúvidas) no grande ventilador do mundo.
Obrigado pela visita. Grande abraço do
Léo.