domingo, 20 de outubro de 2013

Grafite na Agulha: 6) Caminho de estrelas para o céu

O convidado desta semana do Grafite na Agulha é meu queridíssimo Fernando Cavallieri, um dos cantautores brasileiros mais relevantes da geração posterior à dos medalhões da emepebê (em minha humilde – e incontestável – opinião). Já escrevi sobre ele, pra ler basta clicar em... Cavallieri, assim, não preciso me repetir. Resta acrescentar, por ora, que Cava foi o primeiro até agora a ultrapassar as fronteiras da língua portuguesa em sua escolha. Bela aquisição ganhou nosso espaço. Vamos a seu bonito texto, pois!

Caminho de estrelas para o céu

Instado pelo grande letrista, poeta e blogueiro, meu amigo e parceiro Léo Nogueira, a escrever algo sobre um LP, um álbum, um trabalho que tenha marcado minha vida... fui colocado diante de uma verdadeira múltipla Escolha de Sofia, como se Sofia tivesse que escolher para sobreviver ao holocausto um filho entre não dois, mas numerosíssima prole... Como deixar de fora a discografia completa de Tom Jobim e Chico Buarque? Ou do Caetano, (pelo menos até o Estrangeiro)... de Gilberto Gil? Milton Nascimento? Secos & Molhados? Vinicius? Poderia citar algo em torno da centena de obras importantíssimas...

Com o devido pedido de perdão aos não escolhidos (me recuso a não colocá-los em igualdade de condições na importância para a minha vida e o meu desenvolvimento musical...)... bem, deixemos de enrolação... assumamos logo, cara, a verdade... Sim, pode parecer incoerência para um compositor de MPB, sambista e bossa-novista convicto, mas o LP que marcou mais inextinguível e indelevelmente a minha vida, da maneira mais contundente e irreversível, foi o volume IV do Led Zeppelin, aquele da capa com o velhinho com o feixe de lenhas nas costas e que tem Rock and Roll, Black Dog e... Stairway to Heaven... O disco saiu na Inglaterra em 1971, mas eu só fui ouvi-lo uns cinco ou seis anos depois... Eu tinha por volta de 13 ou 14 anos na época, quando esse LP me caiu do céu, rasgando o véu, projetando-se diretamente na minha alma...

A primeira audição de Stairway to Heaven provocou-me uma desestabilização emocional, foi uma alucinação tão desestruturante para um imberbe adolescente cheio de sensibilidade... fiquei absolutamente deslumbrado. Foi como se todas as células e partículas do meu corpo se desintegrassem... e eu só pude voltar a me restabelecer algumas semanas depois, quando finalmente consegui tirar, de ouvido, integralmente, cada nota, cada acorde, cada nuance, cada detalhe daquela guitarra mágica com que Jimmy Page brindara o mundo... E, também, cada palavra, cada suspiro, cada grito, sem falsete, cada respiração da interpretação estupefaciente que Robert Plant, o Deus Nórdico que reinou absoluto como o mais extraordinário vocalista de rock de todos os tempos (e o mais bonito também...), deixou impressa para sempre nas almas de milhões de fãs.

Cava
Enfim, debrucei-me semanas sobre Stairway to Heaven até extrair um cover quase absoluto. Que isso não soe como falta de modéstia. Mas foi fato durante mais anos para mim do que eu poderia prever... Ah... como eu amei tão intensamente Page & Plant... Minha fascinação pela dupla beirou a bissexualidade... Então, passei o resto da vida, até hoje, mas cada vez mais de vez em quando, tocando e cantando Stairway to Heaven... Costumo pilheriar, dizendo que casei três vezes por causa dessa obra-prima... Até hoje, quando solicitado a cantá-la, eu alerto às ouvintes que, sob determinadas condições de pressão e temperatura, um raio pode cair até mais de três vezes no mesmo lugar... que essa sina pode voltar a ocorrer a qualquer momento... rsrs

Após tirar Stairway to Heaven, passei a tirar progressivamente, mas não com tanta exigência nos detalhes, uma a uma, todas as demais canções, os demais petardos desse LP magnífico que deu ao rock aquela abertura explosiva e contundente, uma das mais espetaculares sequências da história do rock, que culmina com Stairway to Heaven na última faixa do lado A... Um disco que nem precisava de um lado B, mas o Led Zeppelin de então estava possuído pela volúpia de se tornar Zeus no Olimpo do rock and roll, cravando, cravejado do brilho mais ofuscante, o inesquecível volume IV...

Nem preciso dizer que, para mim, não houve, não há e jamais haverá nenhuma banda de rock que supere Led Zeppelin...

Evoé, Jimmy Page!

Evoé, Robert Plant!

Evoé, John Bonham!

Evoé, John Paul Jones!

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IV - Led Zeppelin (1971 - Atlantic Records)

Lado A
1. Black Dog 

    (Jimmy PageRobert PlantJohn Jones)
2. Rock and Roll   

    (Jimmy PageRobert PlantJohn JonesJohn Bonham)
3. The Battle of Evermore    

    (Jimmy PageRobert Plant)
4. Stairway to Heaven  

    (Jimmy PageRobert Plant)
 Lado B
1. Misty Mountain Hop  

    (Jimmy PageRobert PlantJohn Jones)
 2. Four Sticks
    (Jimmy PageRobert Plant)
 3. Going to California
    (Jimmy PageRobert Plant)
 4. When the Levee Breaks
    (Jimmy PageRobert PlantJohn JonesJohn Bonham Memphis Minnie)


***
Ouça o LP na íntegra aqui:



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8 comentários:

  1. los mejores!! yo iba al cine a ver la peli (no recuerdo el nombre)...viernes trasnoche...lleno de público "hippie.rcock" jaja!
    Gracias por el recuerdo!

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    1. Hola, Marce! Así que sos uma zeppeliniana? Jajaja!

      Pronto te escribo sobre tu disco, vale? Es que estoy viviendo días muuuuy apurados.

      Te mando un besón,
      Léo.

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  2. esse LP é mesmo espetacular!!a moooooo...me inspireimuito nele, na infância até desenhava a caricatura de Robert Plant nos meus cadernos de escola..Show

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  3. Vocês emepebistas e seu passado negro, hem, Daisycordeiro? Hahaha!

    Beijos zeppelinísticos,
    Léo.

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  4. E nessas, o Cava roubou um potencial artigo "meu"

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    1. Hahaha! Demorou, Moreirinha! Mas, se quiser repetir o disco, sem problemas. Afinal, cada olhar é diferente.

      Abração,
      Léo.

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    2. Bah! já falaram do Led e agora? :) Parabéns!

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    3. Oi, Anja!

      Como disse pro Moreirinha, pode repetir o disco, desde que não repita o texto. Hahaha!

      Beijos,
      Léo.

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