terça-feira, 29 de abril de 2014

Joaquín Sabina en Portugués: 18) Pedro Moreno e a versão de "Y nos dieron las diez"

Esquerdas e direitas à parte, a música não pode parar. Afinal, aqui tratamos, sobretudo, dela. Aproveitei então pra sacar da manga a versão que fiz pra uma das canções mais populares de Joaquín Sabina. Em seus shows, quando ele começa o refrão dela, a plateia, em êxtase, canta junto com ele, a pleno gogó. Detalhe: é de um tempo em que Sabina ainda compunha a maior parte de suas canções só. Com o tempo, à formação de sua banda foram chegando músicos que, além de serem também bons compositores, de quebra eram grandes conhecedores de suas canções, como é o caso de Pancho Varona e Antonio García de Diego, que nos mais recentes discos de Sabina (à exceção dos que este gravou em parceria com Joan Manuel Serrat) têm sido responsáveis, juntos ou separadamente, pela coautoria da maior parte do repertório.

Geralmente a supracitada dupla parte de uma ideia melódica de Sabina e a termina ou simplesmente lhe musica as letras. E a química deu tão certo, que Varona e De Diego já vêm apresentando há alguns anos, sempre com sucesso, as Noches Sabineras, ou seja, noites em que estes apresentam canções de Sabina sem Sabina – e ao final das quais o público mais valente sobe ao palco numa espécie de karaoke de luxo pra cantar suas canções preferidas de Sabina acompanhado pelos músicos deste(!). Em certa ocasião, numa entrevista, perguntaram a Sabina o que ele achava das Noches Sabineras, ao que ele respondeu que era superfavorável, pois ganhava direitos autorais sem sair de casa. Ultimamente as Noches Sabineras têm feito sucesso inclusive fora da Espanha.

Física y química (1992) –
disco que contém
Y nos dieron las diez
Mas, voltando à Y nos dieron las diez (pois é assim que se chama a canção sobre a qual falo nesta postagem), trata-se de uma canção tão popular, dessas que seu autor mal começa a cantar o primeiro verso, logo nem precisa continuar, pois o público, sabendo-a de cor, continua a letra até o final. Só pra matar a cobra e mostrar o pau (ou vice-versa), trago até vocês (aqui) uma demonstração incontestável, na qual ninguém menos que Diego Maradona canta (bonitinho) com Sabina esta canção, num dos tantos shows que el flaco fez na Argentina. O vídeo é horrível, mas a prova é cabal. E, notem vocês, Sabina é espanhol, mas faz sucesso na Argentina como se fosse um artista local (ou mais). Isso seria algo impensável se fizéssemos uma comparação entre Brasil e Portugal...

Pois bem, com as adaptações de praxe, fiz uma versão dessa canção cujo resultado me agradou bastante. E novamente pude contar com a boa vontade e a competência de meu parceirão Pedro Moreno, não coincidentemente morando há anos na mesma cidade onde mora Sabina, a adorável Madri. Quando lhe propus que interpretasse outra versão de Sabina (ele já cantara antes o sucesso Contigo – veja vídeo aqui), ele me contou que havia ficado dividido entre duas canções, uma, de sua preferência, outra, a preferida de sua esposa. E Pedro, como bom marido, sabedor de que quem manda numa casa é o homem – desde que sob a supervisão da mulher –, acabou optando, obviamente pela preferida da consorte. Sorte nossa, que temos agora o privilégio de assistir a uma interpretação personalíssima de Y nos dieron las diez. A ela, pois:


QUE NEM NAS NOVELAS
Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira

Fomos ao litoral uma noite fazer um concerto
Quando o show terminou, eu a vi trabalhando num bar que era o único aberto
“Toca alguma canção”, me pediu, “e eu te sirvo uma dose” 
“Com uma condição: que não tire seus olhos de mim e mantenha essa pose” 
Louco pra conhecer os segredos do seu dormitório 
Nessa noite eu cantei ao piano até o amanhecer todo o meu repertório 

Os clientes do bar, pouco a pouco, foram indo embora
Quando ela foi fechar, eu me disse “cuidado, mané, ou você se enamora”
Mas logo ela voltou e eu senti que seu dedo em minhas costas 
Desenhou um coração, e por baixo da saia imitei o seu gesto em resposta 
No caminho do hotel nos beijamos que nem nas novelas 
Comigo ela empatou: não queria ir pra cama sozinha e eu queria ir com ela

E passamos das 10 e das 11, das 12, da 1, das 2, das 3
E, cansados, só fomos dormir quando acordou a lua

Nos dissemos adeus e oxalá que voltemos a ver-nos
O verão acabou, o outono durou o de sempre e também o inverno
E o verão que voltou nos levou pra tocar lá de novo
Quando o show terminou, eu me vi loucamente buscando essa moça entre o povo
Porém, dela, não achei quem dissesse nem meia palavra
Me senti um refém do destino no meio de alguma piada macabra

Outra vez esperei encontrá-la depois de um ano
No lugar do seu bar só achei uma agência do Banco Sul-Americano
Sua memória vinguei depredando a agência vazia 
“Eu sei que não sonhei!”, repetia enquanto era levado pra delegacia 
Eu, em minha defesa, aleguei que perdera o juízo 
E fiz essa canção bem aqui nesse quarto onde os dois fomos ao paraíso

E passamos das 10 e das 11, das 12, da 1, das 2, das 3
E, cansados, só fomos dormir quando acordou a lua

A original:

Y NOS DIERON LAS DIEZ
Joaquín Sabina

Fue en un pueblo con mar una noche después de un concierto
Tú reinabas detrás de la barra del único bar que vimos abierto,
Cántame una canción al oído y te pongo un cubata 
Con una condición, que me dejes abierto el balcón de tus ojos de gata. 
Loco por conocer los secretos de tu dormitorio
Esa noche canté al piano del amanecer todo mi repertorio.

Los clientes del bar, uno a uno, se fueron marchando
Tú saliste a cerrar, yo me dije, cuidado chaval te estás enamorando.
Luego todo pasó de repente, tu dedo en mi espalda
Dibujó un corazón y mi mano le correspondió debajo de la falda.
Caminito al hostal nos besamos en cada farola
Era un pueblo con mar, yo quería dormir contigo y tú no querías dormir sola.

Y nos dieron las diez y las once, las doce y la una, y las dos y las tres
Y desnudos al anochecer nos encontró la luna

Nos dijimos adiós, ojalá que volvamos a vernos,
El verano acabó, el otoño duró lo que tarda en llegar el invierno.
Y a tu pueblo el azar, otra vez, el verano siguiente, 
Me llevó y al final del concierto me puse a buscar tu cara entre la gente 
Y no hallé quien de ti me dijera ni media palabra 
Parecía como si me quisiera gastar el destino una broma macabra.

No había nadie detrás de la barra del otro verano
Y en lugar de tu bar, me encontré una sucursal del Banco Hispanoamericano,
Tu memoria vengué, a pedradas, contra los cristales,
Sé que no lo soñé, protestaba mientras me esposaban los municipales
En mi declaración alegué que llevaba tres copas
Y empecé esta canción en el cuarto donde aquella vez te quitaba la ropa.

Y nos dieron las diez y las once, las doce y la una, y las dos y las tres
Y desnudos al anochecer nos encontró la luna

***



***

6 comentários:

  1. Que delícia! Pedro Moreno se apossou da canção do Sabina, quase um parceiro, Que MARAVILHA! PARABÉNS!!!
    Beijo e Luz!
    Tato Fischer

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu, Tato!

      Falando nisso, tá na hora de você repetir a dose, não? O que acha? rs

      Beijão,
      Léo.

      Excluir
  2. Obrigado, Tatíssimo. Léo, obrigado, parceiro. Pois é...Falta o Tato nesta lista

    ResponderExcluir
  3. Pedrão, sou eu quem agradece pela dedicação e pela personalíssima interpretação! Valeuzaço!

    Ah, sobre o Tato, ele já interpretou uma, "Cristales de Bohemia", estou sondando pra ver se rola outra. rs

    Abração,
    Léo.

    ResponderExcluir
  4. Realmente sensacional versão!!! Sabina é um gênio e somente outro gênio pra conseguir uma versão tão boa como essa! Parabéns!

    ResponderExcluir