Joaquín Sabina é do time de Vinicius de Moraes: excepcional letrista, sonetista, mais intérprete que cantor, bom de copo, boêmio, notívago, cultivador de amizades, mulherengo e... dado a casamentos! Assim mesmo, no plural. Aliás, como foi Vinicius, é adepto do "que seja eterno enquanto dure", visto que não consegue viver ao lado de quem não ama.
No entanto, ao contrário de Vinicius, Sabina tem poucas canções derramadamente românticas. Em certa ocasião, uma amiga lhe pediu uma canção que falasse de amor, ao que ele lhe respondeu que era só a moça escolher uma de seus discos. Pra seu espanto, ela lhe disse que já havia procurado, mas sem sucesso.
Quando ele foi investigar, notou que realmente até então não havia composto nenhuma. Assim, mesmo sem estar apaixonado naquele momento, compôs Así Estoy Yo Sin Ti.
Quando ele foi investigar, notou que realmente até então não havia composto nenhuma. Assim, mesmo sem estar apaixonado naquele momento, compôs Así Estoy Yo Sin Ti.
Como todos sabemos, o público é, em geral, romântico, mesmo quando o indivíduo não o é. Por isso, quando Sabina gravou Contigo, o sucesso foi absoluto... e imediato. Seguramente é uma de suas canções mais populares, o que se pode facilmente notar via youtube ou pela audição de suas gravações ao vivo.
Contigo pertence ao Yo, Mi, Me, Contigo, de 1996. Já comentei aqui que é dos meus discos preferidos de Sabina. Por isso mesmo, em meio a tantas boas canções, esta demorou a me fisgar. Acho mesmo que o encanto se deu justamente pela interpretação de Fito Páez, em seu também disco ao vivo No Sé si Es Baires o Madrid, no qual Fito e Sabina celebram o reatamento da relação após anos de inimizade, nascida justamente quando da gravação de seu Enemigos Íntimos, conforme relatei em texto anterior.
Mas, pra ser mais sincero ainda, gostei ainda mais dela quando lhe fiz a versão em português, pois o resultado foi tão satisfatório que descobri nela novas belezas. E a letra tem uma aura viniciana (com uma ou duas gotas de sangue roqueiro).
E aí, com a invenção deste projeto, surgiu a ideia de convidar meu parceiro Pedro Moreno a dele participar. Pedro, além de grande compositor, possui uma voz abençoada (e sabe usá-la). O que se deu de diferente em relação aos outros convidados foi que Pedro, como mora há muitos anos em Madri, mesma cidade onde vive Sabina, conhece bem a obra do espanhol, então, em vez de lhe sugerir uma canção, deixei que ele a escolhesse. E o resultado me agradou muito, como vocês poderão comprovar.
CONTIGO
Pancho Varona - Antonio García de Diego - Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira
Eu não quero um amor civilizado
Com contrato e cenas de sofá
Eu não quero que viajes ao passado
E voltes do mercado
A ponto de chorar
Eu não quero almoços com vizinhos
Eu não quero plantar pra ter raiz
Eu não quero dar rosas sem espinhos
Em datas pra ser feliz
Eu não quero te acompanhar na feira
Eu não quero que escolhas meu xampu
Eu não quero usar uma coleira,
Pendurar as chuteiras,
Me enterrar qual tatu
Eu não quero dormir domingo à tarde
Eu não quero um playground no jardim
O que eu quero, coração covarde,
É que morras por mim
E contigo morrer, se te matares
E matar-me contigo, se morreres
Porque o amor, quando não morre, mata
Porque amores que matam nunca morrem
Eu não quero fazer economia
Nunca soube chegar ao fim do mês
Eu não quero comer no fim do dia
A refeição sadia
Dos que não têm mais vez
Eu não quero esse ar-condicionado
Eu não quero beijar tua cicatriz
Eu não quero Veneza em seriados
Nem postais de Paris
Não me esperes com teu advogado
Nem me queiras de volta sem paixão
Eu não quero ser livre acorrentado,
Nem carne nem pecado,
Orgulho ou compaixão
Eu não quero cegar o que não viste
Nem fazer um amor assim-assim
O que eu quero, garota de olhos tristes,
É que morras por mim
E contigo morrer, se te matares
E matar-me contigo, se morreres
Porque o amor, quando não morre, mata
Porque amores que matam nunca morrem
A original:
CONTIGO
Pancho Varona - Antonio García de Diego - Joaquín Sabina
Yo no quiero un amor civilizado,
Con recibos y escena del sofá;
Yo no quiero que viajes al pasado
Y vuelvas del mercado
Con ganas de llorar
Yo no quiero vecínas con pucheros
Yo no quiero sembrar ni compartir
Yo no quiero catorce de febrero
Ni cumpleaños feliz
Yo no quiero cargar con tus maletas
Yo no quiero que elijas mi champú
Yo no quiero mudarme de planeta,
Cortarme la coleta,
Brindar a tu salud
Yo no quiero domingos por la tarde
Yo no quiero columpio en el jardín
Lo que yo quiero, corazón cobarde,
Es que mueras por mí
Y morirme contigo si te matas
Y matarme contigo si te mueres
Porque el amor cuando no muere mata
Porque amores que matan nunca mueren
Yo no quiero juntar para mañana,
No me pidas llegar a fin de mes
Yo no quiero comerme una manzana
Dos veces por semana
Sin ganas de comer
Yo no quiero calor de invernadero;
Yo no quiero besar tu cicatriz;
Yo no quiero París con aguacero
Ni Venecia sin tí.
No me esperes a las doce en el juzgado
No me digas “volvamos a empezar”
Yo no quiero ni libre ni ocupado,
Ni carne ni pecado,
Ni orgullo ni piedad
Yo no quiero saber por qué lo hiciste
Yo no quiero contigo ni sin ti
Lo que yo quiero, muchacha de ojos tristes,
Es que mueras por mí
Y morirme contigo si te matas
Y matarme contigo si te mueres
Porque el amor cuando no muere mata
Porque amores que matan nunca mueren
Con recibos y escena del sofá;
Yo no quiero que viajes al pasado
Y vuelvas del mercado
Con ganas de llorar
Yo no quiero vecínas con pucheros
Yo no quiero sembrar ni compartir
Yo no quiero catorce de febrero
Ni cumpleaños feliz
Yo no quiero cargar con tus maletas
Yo no quiero que elijas mi champú
Yo no quiero mudarme de planeta,
Cortarme la coleta,
Brindar a tu salud
Yo no quiero domingos por la tarde
Yo no quiero columpio en el jardín
Lo que yo quiero, corazón cobarde,
Es que mueras por mí
Y morirme contigo si te matas
Y matarme contigo si te mueres
Porque el amor cuando no muere mata
Porque amores que matan nunca mueren
Yo no quiero juntar para mañana,
No me pidas llegar a fin de mes
Yo no quiero comerme una manzana
Dos veces por semana
Sin ganas de comer
Yo no quiero calor de invernadero;
Yo no quiero besar tu cicatriz;
Yo no quiero París con aguacero
Ni Venecia sin tí.
No me esperes a las doce en el juzgado
No me digas “volvamos a empezar”
Yo no quiero ni libre ni ocupado,
Ni carne ni pecado,
Ni orgullo ni piedad
Yo no quiero saber por qué lo hiciste
Yo no quiero contigo ni sin ti
Lo que yo quiero, muchacha de ojos tristes,
Es que mueras por mí
Y morirme contigo si te matas
Y matarme contigo si te mueres
Porque el amor cuando no muere mata
Porque amores que matan nunca mueren
***
Bela versão... e a interpretação, na tal "voz abençoada" esteve bem!
ResponderExcluirPena... que nunca tenha sido bem "resolvido" o ritmo e melodia em todos os últimos versos dos couplets, como "Em datas pra ser feliz", ou "É que morras por mim", mesmo estando a letra perfeita para os cantar com o balanço do Sabina...
Abraço.
Salve, Samuel! Grato pelos comentários. Em princípio, a intenção de Pedro era gravá-la em violão e voz, depois surgiu a ideia de gravá-la em voz e piano. Nesse caso, a voz de Pedro tem que ir na "onda" do piano de Dany Ortega. No mais, é apenas uma versão pra mostrarmos o que andamos aprontando. Outras virão. No entanto, deixo a palavra com Pedro, que é quem pode explicar melhor essas, segundo você, "traves".
ResponderExcluirNão te vi comentar sobre as outras. Gostaria de saber, afinal, a crítica sincera é sempre edificante.
Abração do
Léo.
Ola, Samuel!
ResponderExcluirConcordo perfeitamente com as tuas observaçoes.
Na verdade, por opçao, eu descolo um pouco da melodia original, sobretudo nos finais (Talvez por cantar a cançao no original antes da bela versao do Léo Nogueira. Depois, o Dani Ortega,( excelente pianista, professor de piano no Conservatório Carmen Amaya, Madrid)como muitos pianistas clássicos tem uma certa dificuldade em tocar sem uma partitura, sem um arranjo escrito. Como se travava apenas de uma mostra, gravamos assim, livre,com o Dani se guiando pelas cifras. O que nao aconteceria numa gravaçao pra valer.
Um abraço
Parceirão, adorei!
ResponderExcluirUm abraço agradecido do
Léo.
Versão perfeita, concordo que Sabina pode ser comparado ao nosso eterno poetinha porém muito mais passional, sedutor, enfim foi ouvi-lo uma vez e fiquei seduzida pela voz, ritmo, letras, personalidade, etc... Grata surpresa encontrar teu blog, vou catar tudo que já escreveste sobre Sabina! Tbém concordo com Samuel, como leiga, na melodia faltou o balanço de Sabina, mais marcante, cadenciado, aquele ritmo que nos faz cantar junto, aos brados!
ResponderExcluirOlá, Vera!
ResponderExcluirEsbarrei meio que por acaso neste seu comentário temporão. Agradeço a visita, as palavras, e deixo aqui o convite pra que volte outras vezes. Já já posto nova versão do Sabina.
Beijo do
Léo.
Só mais um detalhe, que esqueci de acrescentar, Vera: Sabina e Vinicius têm estilos musicais diferentes, Sabina tem uma veia roqueira evidente, talvez por isso você o considere mais "passional, sedutor". No entanto, acredito que as letras de Vinicius tenham igual teor de passionalidade e sensualidade. No mais, o que falta em rock em Vinicius lhe sobra em bossa.
ResponderExcluirOutro beijo,
Léo.
Um sorriso no rosto, um jeito de menino falando de sua infância como se ela nunca tivesse passado, diria: uma criança em estado adulto. Foi assim que vi o Pedro na entrevista que ele nos concedeu. Ela nos contara sobre essa versão e eu já a tinha visto, aqui mesmo , nessa página. É isso aí Leo, unir talentos dá nisso, um belo trabalho.
ResponderExcluirFico grato, Marta. Por ele ter lembrado numa entrevista e por você já a ter ouvido antes. Sinal de que as coisas estão dando certo.
ResponderExcluirPedro é isso e muito mais: é uma pessoa especial, que já passou por poucas (muitas?) e boas na vida e tirou das experiências proveito pra se tornar quem é hoje.
Beijão agradecido do
Léo.