sábado, 24 de setembro de 2011

Trinca de Copas: 3) Cláudio Caldas, Denis Martino e Wilson Rocha

1) AMPULHETA

Há uma rede social muito interessante chamada Livemocha. O que a diferencia das demais é que está voltada ao estudo de idiomas. Um brasileiro que, por exemplo, queira estudar francês procura um nativo dessa língua interessado na língua portuguesa e o adiciona como amigo. Assim, conforme o primeiro for fazendo os exercícios dos vários níveis de estudo, este convida o segundo a corrigi-los. E vice-versa.

Foi assim que Kana conheceu o violonista mineiro Denis Martino. Além do interesse por idiomas, uniu-os também a música. Acabaram tornando-se parceiros e chegaram mesmo a fazer alguns shows juntos. Na época, Denis, tendo estudado violão clássico, cursava música na UFRJ. Minha sorte foi que, felizmente, sua facilidade com as cordas não se repetia com os versos. Assim que me enxeri nessa parceria, justamente numa melodia feita a quatro mãos por Denis e Kana, que ganhou letra minha. É bem bonita, embora carregada nas tintas da tristeza.

O bom resultado nos animou, e Denis aproveitou pra me mandar outras duas melodias de sua lavra, que não perdoei. Gosto muito de ambas, mas escolhi postar aqui a mais recente, pelo simples fator seletivo da novidade (e pelos ares psicodélico-setentistas que senti em sua gravação). Não sei por onde anda o moço; a última notícia que tive dele foi que, com o canudo na mala e o violão a tiracolo, embrenhara-se em terras bolivianas (ou seriam paraguaias?) com intenções não reveladas. Deixemo-lo, pois, com suas merecidas férias e ouçamos o que tem pra cantar:



AMPULHETA
Denis Martino - Léo Nogueira

Hoje

Meus pés me levarão

Longe
É alforria
Hoje
É outro dia
Ontem chovia
Agora, já não

Hoje
Serei o que eu quiser
Monge
Talvez, cigano
Hoje
Tenho outros planos
Tenho outro prumo
Sem ter você

Só levo a roupa do corpo que não é mais seu
Adeus (3x)

Hoje
O chão não vai faltar
Onde
Finda o planeta
Hoje
Vou sem muletas
Viro a ampulheta
Pra recomeçar

Só levo a roupa do corpo que não é mais seu
Adeus (3x)

Atrás do que não perdi
Pra lá do Oiapoque ao Chuí
Mas eu preciso ir só...
...levo a roupa do corpo que não é mais seu
Adeus (3x)

Atrás do que não perdi
Pra lá do Oiapoque ao Chuí
Mas eu preciso ir só
Preciso ir só...
...levo a roupa do corpo que não é mais seu
Adeus (3x)


***

2) CHÁ DE SUMIÇO

O site do Caiubi, ao contrário do do Myspace, não é simplesmente uma vitrine de canções e artistas; a exemplo do espaço físico do Caiubi, é um e-ndereço onde compositores dos mais variados pontos do globo se encontram, tornam-se amigos e promovem parcerias. Há mesmo discos inteiros que estão sendo produzidos exclusivamente com parcerias virtuais. Confesso que não estou entre seus maiores praticantes, mas também não passei batido de todo. 

Meu problema é dar o primeiro passo. Já tenho tantos parceiros que vivem me pedindo letras, que acabo não tendo um grande estoque pra situações tais. Contudo, o carioca Cláudio Caldas  com insistência e perseverança, conseguiu romper a barreira (do - nosso - som). O segredo foi ele ter me enviado uma melodia, ao passo que a maioria pede letra. E calhou de eu ter gostado de sua melodia. E calhou de ela ter me inspirado. Sim, pois não basta gostar, há que esperar pela mágica.

E a mágica não se deu da noite pro dia. Cláudio chegou mesmo a começar uma letra sua, até que a inspiração me bateu à porta. E o resultado me agradou tanto que acabou sendo, entre minhas composições mais recentes, uma das que mais gosto. Temos mais uma, que também ficou boa, e ainda há outras melodias dele à espera, mas queria aproveitar o espaço pra mostrar justamente esta:





CHÁ DE SUMIÇO
Cláudio CaldasLéo Nogueira

Vá chorar
As pitangas lá
Com o governador
Ou melhor
Não vá

Vá trabalhar, pra aprender
Vá lá lavar,
Coser, passar, varrer
E enxugar o chão da sua sina
Pra ver se descontamina o ar
Adeus
E vá com Deus

Vá ver se eu tô lá na esquina
Aproveite e fique lá
Vá me procurar na China
Ou talvez em Bagdá

Vá clamar
Ou vá reclamar
Lá com o papa ou
Em Moscou,
Sei lá

Vá pra bem longe de mim
Pra Quixadá
Pra Quixeramobim
Dar chá de sumiço em sua queixa
Leve essas madeixas pra Berlim,
Xangai,
Xingu, goodbye

Vá ver se eu tô lá na esquina
Aproveite e fique lá
Vá me procurar na China
Ou talvez em Bagdá


***

3) SONETO DE GENTE DIFERENCIADA

O crescimento econômico do Brasil tem aproximado as classes sociais. Muitos da classe baixa estão se mudando pra média, o que é um acontecimento positivo rumo à erradicação da miséria. Infelizmente, a educação não tem andado de mãos dadas com a economia. Acredito que ainda chegaremos lá, mas não acho que seja tão logo. Educação nunca foi nosso forte... No entanto, as faculdades de qualidade duvidosa têm se espalhado, e a busca por alunos/clientes tem feito as mensalidades baixarem vertiginosamente. Tal fato tem um aspecto negativo (o da queda da qualidade do ensino superior) e um positivo (cada vez mais pessoas das classes menos favorecidas têm buscado sua graduação); no final das contas, como se trata de um processo, acho mais positivo que negativo.

No entanto, as classes que sempre tiveram tudo têm se sentido cada vez mais ameaçadas por tal proximidade. A gentalha começa a entrar nos restaurantes caros, nos hotéis, nos aviões, sempre falando alto e rindo muito, gerando constrangimento e mal-estar nas pessoas de boa casta e sobrenomes tradicionais. Buzinando seus carros e ouvindo (no último volume) seu sertanejo universitário, eles vêm aí!

Tampouco eu, que venho das mesmas lonjuras, posso dizer que me sinto à vontade no meio destes. Mas, como já disse, é um processo (um tanto kafkiano, mas não menos processo). Espero que seus filhos, ou, na pior das hipóteses, seus netos, possam estudar em boas escolas e ter condições de, em pé de igualdade, lutar por melhores empregos. Se tal se der, aí sim o Brasil começará a se tornar o que pensa que já é, e o momento caótico que vivemos terá valido a pena.

Há algum tempo virou notícia a polêmica questão da possível estação do metrô no bairro paulistano de Higienópolis, vetada por seus moradores pra, segundo suas próprias palavras, não atrair ao bairro "gente diferenciada". Ok, um assalto eles venceram, mas, no final, será uma luta perdida. A gente diferenciada está aí e, quer queiram ou não, veio pra ficar. Pode não ser via estação do metrô, mas, quando você menos esperar, um deles será seu vizinho do apartamento ao lado, o filho dele estudará com o seu e... não duvide de que ainda será seu genro!

Via Facebook, organizaram um churrasco no bairro pra, pacífica e jocosamente, tirar onda com o tal do termo "gente diferenciada" (e ao mesmo tempo reclamar, que nem só de churrascos vivem os diferenciados). Não fui, mas, num gesto de solidariedade com a causa, compus um soneto que acabei enviando pra Wilson Rocha, um parceiro novo e também muito do diferenciado, que acabou comprando a briga. Pra entrar no clima, ele me mandou uma gravaçãozinha chumbrega (ele é do tempo das fitas cassete - com SS, faz favoire -, quem tem mais de 30 anos deve se lembrar...), mas, como a canção ficou boa, posto-a aqui assim mesmo. Ele prometeu que, tão logo se mude pra Higienópolis, fará uma gravação de estúdio (mas em DAT). Esperemos...

SONETO DE GENTE DIFERENCIADA
Wilson Rocha -  Léo Nogueira

A gente se cansou de ser gentinha
Não tem mais esse papo de povão
Ganhamo o status que onte nós não tinha
Nós se mudamo de jurisdição

A gente não é mais inguinorante
Não é ralé, nós anda de avião
Nós faz facul, nós tem até possante
E a gente paga tudo à prestação

Nossos perfume vêm do mesmo frasco
E, se chiar, nós faz mais um churrasco
Que Higienópolis é da moçada

Nós não é mais cambada de indigente
Nós não é mais só gente diferente
Nós semos gente diferenciada

***

4 comentários:

  1. Fala parceiro, blz?
    Agradeço a sua lembrança!!!
    Grande abraço!

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  2. Salve, Cláudio!

    Estamos juntos!

    Abraços do
    Léo.

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  3. Estive me atualizando. :))
    O chá de sumiço é muito tri.
    :)

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  4. Valeu, Anja!

    Estamos nos esforçando, rumo ao tetra!

    Beijão do
    Léo.

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