sábado, 7 de julho de 2012

Crônicas Classificadas: 23) Vai, Boca!

Este não é um espaço que criei pra tratar (apenas) de futebol, mas de música. Contudo, quando outros assuntos vêm à baila, não tenho como fugir deles. E, como meu texto anterior, Em defesa do direito de ser anticorintiano, causou certo desconforto, vi-me na obrigação (e, por que não dizer?, no direito) de tecer algumas palavrinhas acerca do comportamento em sociedade hoje em dia.


Uma pessoa de minha lista de contatos, a quem não vou nominar, pra preservá-la, ao receber meu e-mail de divulgação, sendo ela corintiana, sentiu-se ofendida ante minha "postura" e pediu-me que não lhe enviasse mais minhas divulgações. Geralmente não discuto e acato o direito que as pessoas têm de não receberem divulgações que não pediram, mas este caso me intrigou, pois vinha de alguém com quem eu já travara uma relação profissional tempos antes.

Enviei-lhe, pois, uma resposta educada na qual perguntava-lhe se havia lido meu texto. Como ele me respondesse que não, percebi onde morara o equívoco e estendi ainda um pouco o papo, ao que ele me disse que se sentiu desrespeitado em sua condição de torcedor corintiano que não agride ninguém e quer simplesmente ter o direito de torcer em paz. Dei-lhe razão em se sentir assim, porém... Ele se sentira assim inutilmente, pois meu texto não tinha esse intuito, muito pelo contrário.

Daí que constatei que o que sucede hoje muitas vezes é que as pessoas, imbuídas de um sentimento vítima do politicamente correto, acabam agindo com intolerância. Como é possível criticar algo a que não se conhece? Apenas por conta de um título? Ora, títulos podem ser irônicos, sarcásticos, enfim, títulos podem ser um monte de coisas. E títulos são, obviamente, parte indissociável de um texto. Ou seja, entender um título requer leitura de seu conteúdo.

O mundo é mais leve, a vigilância da moral e dos bons costumes é que o torna mais complicado. Imaginem que, se eu não tivesse tido a humildade de escrever a essa pessoa alertando-a acerca de seu pré-julgamento, ela poderia ter-me como inimigo gratuitamente e vir a pensar que sou o oposto do que sou, simplesmente porque julgou algo sem saber do que se tratava.

O assunto merece ser mais esmiuçado, pretendo voltar a ele futuramente, por ora compartilho com vocês um texto que conversa com o meu anterior, só que este, avalizado por um meio de comunicação. Está um tanto datado, visto ter sido escrito antes da final da Libertadores, mas, como no futebol as situações se repetem, vale ser lido, inclusive trocando os nomes dos times.


Vai, Boca!
Por Lúcio Ribeiro, para o caderno Esportes da Folha de S.Paulo

Pelo direito dos torcedores rivais de não ver a piada da Libertadores acabar 

Alguém vai ter que dizer isso em público. Então lá vai: "Perde, Timão". Obviamente, não sou corintiano. Muito pelo contrário, hehe. Então me deixa torcer contra, urubuzar, corvar (Xico Sá), trollar (verbo muito usado pela nova geração internética).

Há tempos querem acabar com a graça do futebol. Não tem mais bandeira, não tem batuque, não tem cerveja. E tem a Globo falando que o "Corinthians é Brasil na Libertadores", por mais que a gente saiba que não é, eles insistem. O Corinthians é Corinthians na Libertadores.

O vizinho de coluna Juca Kfouri publicou em seu blog um "novo censo" do país. O povo brasileiro está formado por 30 milhões de corintianos e 120 milhões de "argentinos". Se vira, Timão. A glória vai ser toda sua. O fracasso, também.

Há 12 anos, quando o mesmo Boca fez a final da Libertadores com o Palmeiras, os 30 milhões de fiéis eram "argentinos". Até camisa meio a meio foi confeccionada aos montes.

Hoje é normal corintiano dizer, na pressão absurda do título inédito e com a diretamente proporcional secação que sofrem, para os adversários irem se preocupar com os seus times. Bobagem.

Viva a sacanagem no trabalho, na escola, no e-mail, no SMS, no Twitter. É ela que move o futebol. Sou de São Paulo, mais ainda da zona leste, bairro do Corinthians. Muitos dos meus bons amigos são corintianos. Muitos dos meus primos também. O meu pai é corintiano. Entende que eu não desejo a morte de nenhum deles? Mas não me peça para ficar a favor ou mesmo neutro num jogo como esse.

Até pelos meus queridos acima, não seria a pior coisa do mundo se o Timão acabasse logo com esse sofrimento de Libertadores. Eles ficariam felizes e eu, por tabela, acho, sei lá, um pouco. Isso apesar de meu amigo Eduardo guardar até hoje uma faixa de campeão de 1986 da Inter de Limeira, quando o time do interior ganhou do Palmeiras. O Eduardo FOI ao jogo secar. Maldito.

Mas, para o futebol, o Corinthians ganhar o título seria mais uma piada a acabar. Que chato!

Assim que o Timão passou pelo Santos e se credenciou às finais, um dos trending topics do Twitter foi "São Caetano". Não que o Azulão tenha feito algo naquela noite nervosa de Libertadores e Copa do Brasil. Eram os rivais parabenizando os corintianos sobre o feito histórico alvinegro (101 anos) de ter se igualado ao São Caetano (22 anos) e chegado a uma final sul-americana. Era o que restava aos "anticorintianos" naquele momento.

O negócio é que corintianos e os "anti" estão juntos nesse jogo de amanhã. Não do mesmo lado. Mas que graça teria se estivessem?

São Paulo, 26 de junho de 2012.

***

Viram? onde está a ofensa? As pessoas que se julgam inteligentes deviam aprender a se colocar um pouco no lugar do outro antes de tomarem alguma atitude. Fui!

2 comentários:

  1. Meu caro Léo, mais uma vez concordo com o conteúdo do seu texto, apesar de não concordar sempre com torcedores do time rival. Mas tudo bem, ninguém é perfeito (estou falando de quem não torce pelo timão, é claro!)rsss. e olha que eu nem vou dizewr VAI CORINTHIANS!!! xiiii já dise kkkk!!!! abraço

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    1. Valeu, AC!

      Quem dera todos tivessem esse mesmo senso de humor...

      Abração do
      Léo.

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