A depressão é muito apegada a mim. Trata-me com zelo, cuidando de que eu não descuide dela, não a esqueça. Contudo, não me sufoca. Deixa-me livre durante dias, que é pra eu sentir sua falta, valorizá-la. E então, quando sabe que eu estou carente dela, aparece, com malas de quem veio pra ficar. E fica e me nina e me põe pra não dormir. Ela me ouve e me entende, possui a delicadeza de não me enxugar as lágrimas. A depressão me dá a maior atenção.
Mas tem uma coisa que ela não é: ciumenta. Deixa-me à vontade pra dar minhas escapadelas, tomar umas e outras com a alegria, iludir-me ao sair na rua todo garboso de braço dado com a felicidade, manter uma amizade colorida com o bom humor, enfim, ela é segura de si e sabe que seu lugar em meu coração ninguém toma. Ela não é como aquelas que dizem que vão ali fora fumar um cigarro e escapam dentro dos táxis da conveniência. Não, muito pelo contrário. Ela é meu cigarro.
Mas tem uma coisa que ela não é: ciumenta. Deixa-me à vontade pra dar minhas escapadelas, tomar umas e outras com a alegria, iludir-me ao sair na rua todo garboso de braço dado com a felicidade, manter uma amizade colorida com o bom humor, enfim, ela é segura de si e sabe que seu lugar em meu coração ninguém toma. Ela não é como aquelas que dizem que vão ali fora fumar um cigarro e escapam dentro dos táxis da conveniência. Não, muito pelo contrário. Ela é meu cigarro.
A depressão é como descobrir Chico Buarque pela primeira vez. É algo que nos arrebata, nos tira o chão, não nos deixa fazer nada que não seja estar em sua companhia. E ela fica ali, silenciosa, admirando o modo como age em nós, acompanhando-nos com o olhar ir da cozinha à sala, da sala ao banheiro, do banheiro ao quarto, e nos faz mimos quando choramos na cama, virando de um lado pro outro sem encontrar o sono. E ela, quase orgulhosa, como uma mãe condescendente, ri de nossa infantilidade. Essa é sua piedade.
Ah, a depressão! Essa dona tão simpática que, contudo, não sabe ouvir "não". Afinal, quando ela chega, tem que ser a única a receber nossos cuidados. E, se saímos, acompanha-nos, mas não a nosso lado, atrás de nós, como uma sombra, como uma dedicada esposa oriental. Caminha atrás de nós porque é discreta, não quer que nós, no meio da rua, percamos a compostura ao notar que nos acompanha. A depressão é tamanha.
Ela me visita regularmente, só pra saber se eu ainda sou caidinho por ela. Não me promete nada, nem pede. No entanto, tem um jeito de conseguir o que quer como se não quisesse. Adora me ver de pijamas, sentado no sofá olhando através das paredes. Chega mesmo a sentir uma alegria que quase não consegue esconder quando me vê ouvindo canções de fossa ("mas, se não for por amor, me deixe aqui no chão"). E vai ficando, vai ficando, recrimina-me com o olhar quando peço socorro aos amigos pelo telefone, e, de repente, da noite pro dia, some.
Afinal, ela não crê nessas relações tradicionais. Entra e sai quando bem lhe apetece, não quer meu sobrenome, quer apenas a mim, quando tem fome. Depois, saciada de me saciar, desaparece numa manhã ensolarada, pra voltar tempos depois numa tarde chuvosa. A depressão não crê na cor de rosa. Ela é mais complexa, apega-se, sobretudo, aos seres pensantes (acho que são seus amantes). Tem verdadeiro desprezo pelos babacas e asco dos caras comuns, e, porque esses não têm tempo pra ela, é ela que não tem tempo pra eles. A depressão é questão de pele.
A depressão me convida a brindar a sua saúde. Num brinde que se repete até a última gota da garrafa. Ela não crê muito é em literatura, pois, quando tento ler algo, balança a cabeça negativamente, tirando minha atenção às palavras que se embaralham em meu olhar míope. Deixa-me, contudo, ligar a televisão, mas só pra ver as imagens, que dão um contrastante colorido ao gris do dia. Às vezes acho que só a recebo porque é ela quem precisa de mim e, assim, faz que eu precise dela. A depressão é minha cela.
Agora mesmo, enquanto escrevo, ela me admira, humilde, num canto do cômodo, sentadinha no sofá, com as mãos no joelho, fingindo não saber que estou escrevendo a seu respeito, mas, lá no fundo, vaidosa por sabê-lo. A depressão não move um fio de cabelo pra me induzir a fazer o que ela quer, simplesmente sabe ser transparente, pra que eu lhe leia os pensamentos. Às vezes, quando olho no fundo de seus olhos, sinto um arrepio e, com um gosto de sangue na boca, tenho a impressão de que ela é a própria morte. Mas não, é só impressão. É só depressão.
***
Dedicado a uma amiga que sabe que é a ela que lho dedico.
Chuta essa coisa pra lá que ela não te pertence...
ResponderExcluirCredo,tive a visita dela somente uma vez,não nos entendemos e ela saiu desapontada. Vez ou outra ela tenta botar a cara na janela,mas eu dou-lhe um"cotoco"(também falo,aprendi com a Lucia Helena) e ela sai em disparada. Só espero que não seja a mesma e que ao encontrar minha casa fechada,ela a depre, vá a sua procura ai em SP.
Beijos e tenho um ombro que suporta o mundo...venha pra cá.
Ô, Lucinda, queridona!
ExcluirEntão foi você que mandou ela pra cá, né? Ora vejam! Hahaha!
Mas não se preocupe, não, que ela é inofensiva, só vem cuidar de mim às vezes quando sabe que tô só.
Beijos,
Léo.
Léo parceirinho, boa companhia é a tristeza. Com ela, eu também convivo. Todo mundo deveria, acho. Mas se é depressão, tô com a Lucinda: chuta pra bem longe!
ResponderExcluirBeijão e fica bem!
Danny, queridona, meu problema é que eu não sei dizer não... Elas vêm chegando, se apropriando, e eu vou dizendo "sim"...
ExcluirMas fica tranquila, que eu sei que é só um "casinho". rsrs
Beijos agradecidos,
Léo.
Grande Léo...
ResponderExcluirPense que é "só" angústia...
Tamo junto!
Aliás, faz tempo que a gente não "proseia"...
Abssssssssssss! Força na peruca!!!
Parece que tá mais cansado que o goleiro dos hómi...
Hahaha! Só você, Moreirinha! Marrapaiz, angústia não dá rima! Hehe!
ExcluirTô cansado, não, tô engambelando o adversário (me fazendo de morto e esperando o segundo tempo)!
Abração,
Léo.
Angústia tudo bem também. "Vezenquando" é bem-vinda. :)
ResponderExcluirRicardim, saudade d'ocê!!!
Beijo!
Se a gente pudesse escolher, Dannoca...
ExcluirAté pode, Leozito. Até pode. Se a gente acha que está com depressão, pode procurar uma terapia, por exemplo. Mas conviver com ela, achando-a uma parte natural da vida... sei não!
ExcluirBeijo!
Queridona, hoje a felicidade (do Tatit... rs...) veio me procurar. E, como sou facinho e não sei dizer não, não posso falar de depressão. Hahaha! Vamos ver até semana que vem o que ocorre...
ExcluirBeijos,
Léo.
Quando ela não tá aqui, tá aí então?? Infiel essa tal...
ResponderExcluirEla não é infiel, querida. Ela é moderna! E ocupada... Tem muita gente se enfiando no meio da saia dela...
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