Sou favorável ao direito a que a população
se manifeste. É bom viver num país em que as pessoas podem sair às ruas
e reclamar por melhorias em várias áreas. Sinal de que a liberdade de
expressão está protegida por lei. Quando a blogueira cubana Yoani
Sánchez veio ao Brasil e foi calada por manifestantes contrários a seu
pensamento, ela atentou pro fato de que em Cuba tais manifestações, caso
ocorressem, seriam severamente reprimidas. E, quando falamos em
liberdade, não se trata apenas da nossa e das pessoas que pensam como
nós. A lei é igual pra todos. Assim, da mesma forma que vemos a Parada
Gay, vemos a Marcha para Jesus, a Marcha das Vadias, passeatas contra o aborto ou o casamento
de homossexuais, grevistas de várias profissões, manifestações do MST, comícios políticos, uma turma contra o Feliciano, outra a
favor, uma galera exigindo a liberação da maconha e... o Movimento Passe
Livre.
Eu tenho cá comigo minhas convicções. Acredito que num
país justo o casamento devia ocorrer entre cidadãos que se querem,
independentemente do sexo; a decisão sobre o aborto, assim como a
eutanásia, devia ser exclusivamente de âmbito privado, afinal, cada um é
dono de seu corpo; as drogas deviam ser liberadas e controladas,
o que economizaria dinheiro e vidas, sem falar na geração de novos
empregos (no mais, se o cigarro e a bebida são liberados, por que não?);
as terras teriam de ser mais bem divididas; a distância entre o piso e o
teto salariais não devia ser tão larga; a carga horária do trabalhador
não devia exceder as sete horas diárias; a educação devia ser gratuita e
obrigatória; qualquer tipo de jabá devia ser, além de proibido,
fortemente penalizado; a cultura devia ser um bem acessível a toda a
população; não devia haver mais que três... vá lá, cinco partidos
políticos... A lista é longa, não caberia aqui.
O parágrafo anterior o escrevi apenas pra que você, leitor que
ainda não havia passado por aqui e não sabe quem está escrevendo, antes
de atirar a primeira pedra, saiba ao menos em quem vai atirar. Afinal,
pretendo entrar num assunto espinhoso. Contudo, antes disso preciso
dizer que, sim, acho o preço da tarifa de ônibus em São Paulo um
absurdo, mais, uma total falta de respeito ao cidadão, que já paga
exorbitantes impostos. Fiz uma rápida pesquisa e confirmei que São
Paulo possui a maior tarifa entre todas as capitais brasileiras. Em Brasília,
curiosamente, encontrei a mais barata, R$ 1,50. Achei engraçado, porque
político não toma ônibus. Convenhamos, R$ 3,20 é de lascar!
Principalmente se compararmos com outras grandes cidades do exterior. E o
pior é que, quando pagamos caro por algo, esperamos ao menos qualidade
no serviço, e passar uma, duas ou mais horas espremido e sufocado num
coletivo em meio a um trânsito surreal não é exatamente sinônimo de
conforto.
Isto posto, venho dar meu pitaco em relação a essas
manifestações que têm ocorrido (não só) na capital paulista. Antes de mais nada,
acrescento que adoraria viver num mundo onde não só a condução fosse
gratuita, como também a saúde, a educação, a cultura, a alimentação
etc., mas... Nesse caso teríamos de viver em outra sociedade e com outro
sistema de governo, pois no atual acho pouco realizável tal gratuidade.
Sou totalmente anticapitalista, mas o socialismo também não se mostrou a
realização de nossos sonhos. Um sistema justo e eficaz está por se
inventar. Mas voltemos. Transformar um serviço em gratuito, nesse atual
sistema, é um tanto utópico, visto que tal serviço gera gastos: salários
de funcionários, combustível, manutenção e renovação de frota e por aí
vai. Certamente esse valor retornaria em forma de novos impostos. Talvez a saída fosse a quebra de alguns monopólios, mas a quebra de algumas estações não me parece ser dos melhores argumentos...
E ser estudante no Brasil já é sinal de privilégio. Mais
dignificante seria se os estudantes tivessem o altruísmo de invadir as
vias públicas exigindo que se acabasse com a mendicância; que tirassem
as crianças das ruas e lhes dessem casa, escola, saúde; que se
resolvesse o problema das enchentes e das moradias precárias; que os
professores do ensino público tivessem um salário melhor que lhes
possibilitasse uma melhor qualificação; que os planos de saúde não
fossem tão cruéis com o bolso dos idosos; sem falar na questão da violência e na superlotação dos presídios; enfim, há muita coisa que
merece que saiamos às ruas pra botar a boca no trombone. Mas, como
frisei acima, reconheço-lhes o direito. O que não compreendo é o
quebra-quebra, é o dano à coisa pública (e a uma ou outra coisa privada que
estiver no meio do caminho), é o linchamento de um por muitos...
Aprendi que quando alguém se exalta, por mais que esteja certo
nos argumentos, perde a razão. Em qualquer espécie de diálogo se
sobressai aquele que se mantém tranquilo e sabe expor seus pontos de
vista. Uma movimentação que visa a chegar a algum resultado deve contar
com líderes que a saibam representar e, aprovados por ela, dialogar.
Atualmente, com o advento da internet e das redes sociais, ao passo que
mobilizar massas se tornou muito mais fácil, também se tornou muito mais
perigoso, pois não temos o poder de saber quem irá nem o que fará.
Vândalos, vadios e quetais adoram essas oportunidades pra extravasar
sua ira, e os responsáveis por tais manifestações não sabem nem
conseguem ter voz ativa pra refrear os ânimos de tais sujeitos. Dessa
forma, muitas vezes o que se consegue é o oposto do que se pretendeu.
Outro ponto importante e que deve ser levado em conta atende
pelo nome de: polícia. Em minha concepção um policial é um mal
necessário. Nós, os seres pensantes, costumamos ter ojeriza a esses
sujeitos fardados que agem como cães raivosos que atacam ao menor sinal
do dono, brucutus que têm o costume de bater (atirar?) primeiro, depois
perguntar. Nessa profissão o normal é achar todo mundo culpado até que
esse "todo mundo" prove o contrário, ou seja, o oposto do que diz a lei.
Pos bem, tais cidadãos (sim, afinal, também são filhos de Deus) por nós
execrados fazem parte de um pilar importante da sociedade. Sem eles (no
atual sistema, enfatizo), quem nos protegeria? Cada um acabaria virando
um caubói armado. Portanto, sabemos de antemão que onde quer que
resolvamos nos manifestar lá estarão nos esperando esses sujeitos,
fortemente armados e preparados pro pior...
Bem, são muitas as questões que envolvem tais atos a serem
abordadas. Tampouco eu tenho as respostas, apenas notei que as coisas
estão se encaminhando pruma direção que põe inocentes em risco a cada nova
manifestação. E aprendemos com os erros do passado (ou deveríamos ter
aprendido) que violência gera violência. A frase é lugar-comum, eu sei,
mas não por isso menos verdadeira. Demoramos muito tempo pra conquistar
algumas coisas, então, é importante pensar bastante antes de, movidos
pelos ânimos exaltados, dar um passo maior que a perna. As vitórias são
alcançadas degrau por degrau. Quando um movimento desordenado começa a gerar insegurança pelo grau
de sua periculosidade, sempre periga
acordar as bestas quadradas que, em nome da família e dos bons costumes,
são capazes de atrocidades bem maiores do que supõe nossa vã filosofia de
seres pensantes.
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triste! y me trae malos recuerdos!
ResponderExcluirSí, Marce. Ya lo sé. Yo escribí este texto el miércoles, el jueves hubo otra, y la policía reaccionó muy mal. Y hoy, lunes, esperamos otra y, por las noticias, la policía debe venir aún más violenta. Ojalá no pase nada.
ExcluirBeso,
Léo.