terça-feira, 18 de junho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 92) Os protestantes

Minha fugaz felicidade neoburguesa (ler texto aqui) nem bem chegou, foi embora rapidinho (viu, Camalle?)! O Brasil, de repente, começou a fervilhar, em princípio por causa de meros vinte centavos, daí, da noite pro dia, a polícia do Geraldo se tornou protagonista de um flashback ditatorial que mobilizou até as múmias: gente sendo presa por portar vinagre(!), tiros de bala de borracha dirigidos a repórteres e outras barbaridades, daí ficou simplesmente impossível alguém com um mínimo de bom senso se posicionar contra essa galera. Eu, confesso, estive sempre cético (leia meu primeiro texto a respeito do assunto aqui). Em primeiro lugar, porque soube que a mobilização inicial tencionava beneficiar apenas os estudantes, em segundo lugar porque pensei se tratar de movimentação política pra desestabilizar o governo...
Vamulá, o filminho que passava em minha cabeça era o seguinte: o tal do MPL não havia demonstrado ter um discurso coerente, e eu, que já li a respeito de (e vi) muita manifestação que deu em merda e foi responsável pelo tiro sair pela culatra, comecei a temer pelo pior. Principalmente por um detalhe dos mais significativos. Sou e sempre fui um cidadão com ideias de esquerda. E, como tal, aprendi a ser contrário à política almofadinha do PSDB. Daí que tivemos oito anos de FHC transcorridos em meio a um mar de silêncio absoluto. E quando, de repente, vejo um governo petista gerando melhorias admitidas até pelas classes contrárias ao partido, me aparece um bando de jovens sem discurso pregando anarquia? Só podia mesmo temer pelo pior.

Meu medo era baseado na possibilidade de que, coagidos, os párias pudessem tentar retomar o poder, como fizeram (com o apoio das massas, é bom que se diga) em 1964. Mas pensei e repensei e cheguei à conclusão de que hoje, em pleno século XXI, com os olhos do mundo voltados pro Brasil, às vésperas de uma Copa e, posteriormente, Olimpíadas, qualquer um que ousasse "tomar o poder" ia ter que ter muito sangue de barata! Comecei a me sentir em "crise existencial", pois não conseguia tomar partido (a exemplo deles, que são apartidários). Recebi ligação de Adolar Marin, feliz da vida; vi meu brou Edu Franco, cético, ser um facebookiano repórter do apocalipse; vi meu novíssimo parceiro Xande Mello ir direto da manifestação prum ensaio; meu brou Gabo Prado tentar me convencer, vi, vi, vi... Meninos, eu vi!

Sem falar que a tchurma da nova MPB (e da nem tão nova assim) estava toda lá. E que colegas de trabalho, parentes, enfim, uma legião de gentes prestava sua solidariedade como podia... Alguns ecoavam Cazuza e Renato Russo... E só eu com a pulga atrás da orelha? Pra vocês terem uma ideia, nos últimos dias escrevi dois textos que pretendia postar aqui, mas, na hora H, pensei que não era momento propício pra falar de bugalhos quando o país inteiro estava falando de alhos. Dou a mão à palmatória: sou, hoje, todo dúvidas. Só fiquei feliz ao saber que uma galerinha mais roquenrol derrubou o portão do Palácio dos Bandeirantes. Adoraria ver a cara do Alckmin acuado. Aproveito pra mandar um recadinho pra ele: meu caro governador, até pra ser Maluf há que se ter pikadura! Não basta querer...

Lamentei, contudo, porque, por motivos profissionais, não pude ver o talvez mais relevante programa dos últimos dias: o Roda Viva entrevistando dois líderes do MPL. Sim, porque não sou toupeira, daqueles que discordam sem ouvir. Eu não. Sou todo ouvidos, sempre. E, não raro, mudo de opinião ("eu prefiro ser essa metamorfose ambulante..."). Meu lema é: convença-me! Nesse exato momento leio depoimentos de dois amigos que se mantiveram até agora firmes em suas convicções, Edu Franco e Roney Giah, e fico um tanto constrangido por não vestir confortavelmente nem a camiseta do pró nem a do contra... Mas aproveito pra convidá-los a vir aqui deixar suas impressões, afinal, o debate sempre é bem-vindo.

A verdade é que não sei se estou eufórico ou se estou apreensivo. Sinto que sinto a falta de meu brou Camalle pra me atiçar e me ajudar a pensar com clareza. Todos nesse exato momento têm muita certeza, e eu, que sou torcedor roxo do Dúvida Futebol Clube, com minha bandeira a meio pau, sou só reticências... Sei que vivemos um momento histórico, mas momentos históricos nem sempre foram sinônimos de bons momentos. Claro, me agrada ver o status quo mijar na cueca, mas, ao mesmo tempo, aprendi que se deve temer um homem que acaba de urinar nas calças (né não, Geraldo?)... sou todo... todo... dúvida... E, na condição de quem está acostumado a duvidar, só queria perguntar a essa galera toda se eles, que sabem tanto o que não querem, saberão o que querem...

Daí que, como sei que muitos me atirarão pedras, opto por terminar este texto com o depoimento (via fb) de um cara que foi repórter in loco dos recentes acontecimentos e certamente será mais persuasivo que eu. Carlos Careqa: "Em 1984 eu tinha 23 anos. Senti uma responsa muito grande em lutar pelas Eleições Diretas. Fui a comícios, bradei nos meus shows solitários em Curitiba pelas Diretas. Claro que não saiu tudo como a gente queria. Não teve eleição direta naquele ano, manobras no Senado e na Câmara fizeram que a eleição fosse indireta e tivemos que suportar o Sarney. Continuamos bradando aqui e acolá. Nunca fui militante de um partido, mas simpatizei desde sempre com o PT. No início não, mas logo depois optei. Tivemos eleições diretas em 1989... Fiasco total, Aquele cara collorido ganhou.
 

"Hoje fui à passeata para perceber o que estava realmente acontecendo nas ruas. Os meninos e meninas de hoje querem fazer alguma coisa útil pelo nosso Brasilzão!!! Justo. Eles merecem e estão fartos de razões. Porém, repito até o último grito que sem partido político não se faz democracia. É preciso se informar melhor. É preciso ler sobre Sociologia, Antropologia e outras logias para poder se manifestar melhor. Eu gostei muito do que vi hoje. Jovens gritando palavras de ordem contra o aumento das passagens e outras coisas. Mas é sempre bom lembrar que tudo isto pode cair no Vazio caso não haja uma catalisação em torno de objetivos. E que este Rio que nasce limpo não vire um Rio Tietê, como aconteceu com os partidos que chegaram ao poder. Vamos continuar lutando para que nosso futuro seja melhor. Muita coisa já mudou, talvez os meninos de hoje achem que nada mudou. Mas essa mudança, pelo menos aqui no Brasil, é bem lenta."

Taí, Careqa resumiu o que eu queria dizer e não consegui. Todos queremos mudanças, mas, pra que elas sejam pra melhor, temos de estar preparados pra ter respostas, porque os abutres sabem fazer as perguntas mais difíceis.

10 comentários:

  1. Gostei. Escreves bem pra cacete. E na minha opinião vou usar a metáfora do cachorro correndo atrás do pneu do carro em movimento: o carro para e o cão não sabe se morde, se late, se sai correndo a esmo, se faz xixi no pneu... e assim está essa cachorrada correndo atrás de protesto açulada pela midia. Perdí o saco com tanta alienação de mauricinhos, patricinhas, tinocos e hermengardas.

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    1. Lindberg, não generalizemos. Alguém ali sabe o que está fazendo. Pena que acho que é a minoria...

      Abraço,
      Léo.

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  2. Pois é Leo.

    Sou partidário da opinião do Careqa e venho há duas semanas sendo o "chato" alertando o movimento de-todas-as-causas para que foque em uma por vez. Organizem-se.
    Minha timeline está cheia de defensores apaixonados e via de regra, bem desinformados, com conhecimentos históricos fragmentados e defensores que são uma geração que não atende a nenhuma regra ou partido.

    Talvez a geração da facilidade da internet e a multitude de "especialistas em qualquer assunto" provenientes da rapidez e pouca profundidade da web deu como cria esse movimento. Rezo que esteja equivocado...

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    1. É, Roney, quem não viu o bicho pegando acha que tá ruim, mas mal sabem eles que pode piorar... e muito. Acabei vendo a entrevista com dois membros do MPL no Roda Viva e tô terminando de escrever minhas impressões. Devo postar em breve.

      Abraço,
      Léo.

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  3. Com certeza eles devem estar preparados. O problema que está acontecendo (por isso o gerúndio hehehe), é que o MPL quer a tarifa reduzida do transporte público, mas outras pessoas já vão para a manifestação por N motivos, aqueles tantos que conhecemos, e isso causa uma dispersão, tanto na Passeata, quando nos objetivos. Quando eles foram no Roda Viva, consegui assistir só o começo, eles falaram sobre os 20 centavos e etc, e as pessoas que "confirmaram" presença no evento do facebook, começaram a questionar o MPL, porque não é só por isso, que eles querem reduzir, mas não é por isso que estamos lutando e bla bla bla.... então acaba tendo uma divergência, uma inversão aqui, e como você disse: O tiro pode sair pela culatra, tantas pessoas mas com desejos diferentes. Acho realmente bacana essa "revolução", todas as pessoas na rua, achei LINDO, mesmo!!! Mas agora devem se organizar e definir melhor o que querem! Pois a "linha de frente" defende uma coisa, e o restante da população querem outra.... reticências são ótimas!!!

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    1. Paula, o que eles queriam conseguiram. Vamos ver agora as cenas dos próximos capítulos...

      Abraço,
      Léo.

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    2. Simm!!! Vamos ver agora, rumo aos outros objetivos hehehehe

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    3. Escrevi mais a respeito. Leia os textos mais recentes, Paula:

      http://www.oxdopoema.blogspot.com.br/2013/06/cronicas-desclassificadas-92-tentando.html

      e

      http://oxdopoema.blogspot.com.br/2013/06/cronicas-desclassificadas-93-o-preco-da.html

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  4. É preciso estar atento e forte. Agora mais do que nunca!!!

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    1. É, Careqa. "E coerentemente assino embaixo. Hoje é preciso refletir um pouco."

      Abração,
      Léo.

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