domingo, 23 de junho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 94) O preço da ignorância

No texto passado (este) tentei destrinchar um pouco os intrincados meandros do MPL (Movimento Passe Livre). Hoje vou deixá-lo de lado e exprimir meu pensamento a respeito da outra parcela dos manifestantes: o povo. Pelo que pude notar, as pessoas estão cansadas do modelo vigente. E eu consigo entender os motivos. Atualmente o dinheiro fala mais alto em todas as relações, inclusive as partidárias. Daí a corrupção, os mensalões, os caixas dois, os dinheiros em cuecas, os pmdbs, os ministérios usados como moeda de troca, os sarneys, os renans, os felicianos, os... Todos são frutos desse sistema corrompido, que já há tempos não consegue se equilibrar sobre as pernas. E o povo, que desde sempre tem sido a parte mais sufocada nesse estranho organismo, começa a dar sinais de que não aguenta mais. Toscamente, claro, cambaleante, sem discurso (afinal, é reflexo de séculos de opressão), mas persistente.

A casa caiu! De agora em diante, o Estado que se cuide, pois doravante qualquer deslize da politicalha levará o povo às ruas. E o povo não quer nem saber se o orçamento dos governantes está pequeno, afinal, ninguém mais que a população sabe o que é ter que conviver eternamente com um orçamento que não vale 30 dias. Cada um com seus problemas. Quem mandou não investir uma fatia maior das verbas em educação? Agora quem reclama não sabe matemática; como disse uma manifestante dia desses, chega de mostrar gráficos, o povo quer resultados. No mais, gráficos sempre podem ser manipulados, mas o extrato bancário de cada um, não.

E o que é o povo? O povo não é a mesma coisa que um indivíduo. Um camarada sozinho pensa de um jeito, bem ou mal tem lá suas opiniões, já quando está em bando a coisa muda de figura. Se um fala mais alto, o outro, que pensava o oposto, mas não tinha certeza, embarca na onda. E mais, o coletivo dá coragem até ao covarde, aliás, principalmente ao covarde. E agora, com a classe mais pobre, que sempre se sentiu excluída dos avanços do país, emergindo e galgando um maior poder aquisitivo, essas pessoas que nunca tiveram voz começam a gritar, mesmo que sem saber o quê, mesmo que sejam palavras de ordem que elas não sabem o que significam. Mas nem por isso deixarão de gritar.

Li há pouco que o MPL decidiu suspender por ora novas manifestações depois que, segundo eles, grupos conservadores se infiltraram nas passeatas e aproveitaram pra defender propostas que não são apoiadas pelo movimento. E também por causa das agressões por parte de radicais de direita a militantes de partidos políticos que resolveram levar suas bandeiras ao último evento (em 20/6). Ufa! Agora posso respirar um pouco mais tranquilo. Confesso que temia pelo pior. E todos sabemos que, quando as coisas saem do controle, é comum o exército tomar as ruas e, às vezes, aproveitar que já está ali mesmo e depor governos e assumir o comando. E acredito que ninguém em sã consciência, muito menos a galera do MPL, está a fim de um retrocesso desses.

Pois bem, agora a batata quente está nas mãos do Governo. A presidente Dilma bem que podia aproveitar o momento e fazer uma bela faxina em Brasília. Até porque sua cabeça andou em vias de encarar uma guilhotina. Segundo andei lendo, ela disse que ficou impressionada com os acontecimentos e que estava preocupada com os impactos que tais manifestos poderiam ter nos investidores internacionais, além de como poderia ser manchada a própria imagem do Brasil no exterior. Pois é, minha excelentíssima presidente, talvez este seja o momento de o PT repensar até que ponto os fins justificam os meios e tentar resgatar a ética que tanto arrotava enquanto era oposição. Caso contrário, muitas surpresas nos aguardarão nos próximos pleitos. Fico pensando se, quiçá, Saramago não terá sido profético e ainda venhamos a ter uma maioria de votos nulos ou em branco. Hoje não duvidaria disso.

Seria um bom momento de se encarar com mais seriedade a educação brasileira, pois ninguém aguenta mais a ignorância. O caos que se instalou nas ruas e avenidas do país se deveu em grande parte a esses coitados que nunca tiveram acesso à informação e a uma boa educação. Tais pessoas não têm nada a perder, eles sabem apenas que estão descontentes. Se invadissem o Palácio do Planalto e dessem de frente com a presidente, na falta de saber organizar as ideias e argumentar, restar-lhes-ia quebrar tudo e partir pra agressão. Já pensaram? Isso sim seria uma vergonha internacional. É o preço. Eu, se fosse às ruas reclamar de alguma coisa, exigiria não tarifa zero, mas educação gratuita e de qualidade OBRIGATÓRIA PRA TODOS, desde o jardim da infância até o diploma de nível superior. Como li em algum lugar, gasto com educação não é despesa, é investimento!

Afinal, num país que se diz democrático e em crescimento, não dá mais pra termos duas educações distintas: uma que ensina o filho do pobre a ser pau-mandado e outra que ensina o filho de quem tem grana a ser mandante. Caso continue esse abismo entre as duas extremidades, uma hora nego vai conseguir invadir a prefeitura, o Palácio dos Bandeirantes, o Palácio do Planalto... Aí a cosa vai feder! Pra terminar, eu sugeriria que o MPL se organizasse pra se tornar um partido político. Em meio a trocentos, um a mais ou um a menos não faria grande diferença. E nessa situação o movimento teria mais condições de negociar e, de quebra, teria toda essa grande fatia descontente da sociedade como possíveis eleitores. Entre uns eleitores descontentes e outros tapados, eu sou muito mais o MPL em Brasília que essa assustadora bancada evangélica que se expande que nem vírus. Estes sim podem causar um estrago irreparável. Taí, acabei de pensar: devíamos aprovar um projeto pra curar políticos evangélicos. Bora fazer uma manifestação a respeito?


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P.S. Escrevi o texto acima há dois dias. Nesse meio tempo o MPL voltou às ruas. Reitero: organizem-se e transformem sua sigla num partido político. Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça. O PT sabe muito bem disso.

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2 comentários:

  1. É isso aí, Léo, viva a democracia!!!
    Sobre os orçamentos é bom saber que o governo anda subsidiando vários setores empresariais e em um momento destes, que estamos vivendo, falta dinheiro para gastos com o social. A nossa presidente Dilma prometeu um plebiscito, questionando a reforma partidária, mas depende do congresso aprovar como uma PEC. Acho fundamental a manutenção das organizações partidárias pois são os instrumento representativos de nossas vozes, mas uma faxina, se faz necessária. Sem partidos retrocederíamos à ditadura ou à uma anarquia, sem uma população esclarecida, o que seria um caos total. Sobre educação, é óbvio que, sem ela não temos um povo desenvolvido em todos os aspectos. É fundamental e prioritária. E que Deus ilumine esses religiosos fundamentalistas!!!

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    1. Salve, Cláudio!

      É, rapaz, estamos vivendo dias de mudança. Espero que pra melhor. Precisamos, em princípio, de duas reformas, uma educacional e outra política. Em minha opinião, tudo caberia em três partidos no máximo: um de esquerda, um de centro e outro de direita. O resto são vírgulas desnecessárias e ministérios de mais. Vejamos no que vai dar.

      Abração,
      Léo.

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