domingo, 2 de setembro de 2012

Ninguém me Conhece: 68) Ayrton Mugnaini Jr., o homem da vida... dele!

Numa época em que eu era mais mané que hoje, conheci Ayrton, primeiro virtualmente, na RSMB (leiam mais no texto sobre Adolar), rede criada pelo compositor Madan. Finalmente a RSMB passou a promover eventos esporádicos, e Ayrton cantou num deles. E acho que foi numa dessas noites que o conheci pessoalmente. Figuraça! Magérrimo, não exatamente um galã de TV, ostentando um penteado feito no mesmo cabeleireiro do Visconde de Sabugosa, era mesmo um tanto tímido. Mas, quando subiu no palco, a mágica se deu. Era impossível não rir de seu autodeboche. Puxando pela memória, acho que cantou O Homem da Minha Vida (tenho quase certeza de que acompanhado por Wilson De Repente, que de repente passou a se chamar Wilson Rocha - ou terá sido o contrário?), que contava da infelicidade de se sentir atraído pela esposa de um amigo, e arrematava: "A paixão e o desejo me consomem/ Você também se sente consumida/ Mulher de amigo meu pra mim é homem/ Por isso você é o homem da minha vida".

1) O Homem da Minha Vida (Ayrton Mugnaini Jr.)
Língua de Trapo
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O tempo passou, a RSMB passou, reencontrei Ayrton mais uma vez virtualmente, agora na M-Música, da qual já falei tantas vezes aqui. E, mais um tempo depois, passei a vê-lo mais amiúde, pois ele se tornou um habitué do Caiubi. Lá, chegou mesmo a ser membro da banda Tonq (Tosqueira ou Não Queira), que contava ainda com Ricardo Moreira, Ricardo Soares, Sonekka e Wilson Rocha (e Silva). E foi por causa do Tonq que nos tornamos parceiros, ainda que de forma um tanto fragmentada. Eu havia feito uma letra meio na linha Tonq e a enviei pra Sonekka, que a musicou, mas depois a entregou a Ayrton, pra que este a "tonquisasse". A canção acabou se chamando mesmo Tosqueira ou Não Queira e tinha uns versos nessa onda: "Nóis vende um milhão de cópia/ Mas de fabricação própria/ Em Zimbabwe e em Perdizes/ Nóis não cabe nessas crises/ Nóis não sabe o que dizes [...]".
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Mas ainda não era hora de a parceria se tornar efetiva. Eu, alguns anos antes, já havia mesmo lhe enviado umas letras que tentavam ser engraçadas, mas não passavam de sofríveis, e Ayrton não viu muita graça em musicá-las. Já nos tempos de Caiubi, quem acabou colaborando com ele de maneira mais efetiva foi justamente Kana, a quem ele convidou pra gravar uma canção sua (dele), só que em japonês! Não citei ainda, mas Ayrton é meio que um homem-bombril, 1001 utilidades, sacam? E, entre essas muitas utilidades, está a de tradutor. E uma das línguas que Ayrton estudou foi a japonesa. Assim que compôs o divertido Wakai Goeidai, hilária homenagem dele ao iê-iê-iê. Mas a graça da canção passa despercebida pra quem não sabe do que se trata, pois o título em japonês significa mesmo "jovem guarda". Só que ao pé da letra! E é aí que mora a graça. Wakai goeidai é um jovem guarda! Além de Kana, cantou também na faixa Fernanda Takai, do Pato Fu.
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Ainda a respeito da relação de Ayrton com o Caiubi, assim como a de Zé Rodrix, Tavito e tantos outros grandes, é de amor. O camarada chega lá nas segundas autorais, contrabaixo a tiracolo, e parece mais um músico a serviço da casa do que um artista. Afinal, acaba tocando com meio mundo, muitas vezes de improviso, sem conhecer a canção. Revestido do maior espírito caiubista. Foi assim que se aproximou de vários artistas do clube e com eles fez shows e gravações, como foi o caso de Lucia Helena Corrêa. Ambos caíram de amores um pelo som do outro e Ayrton virou seu contrabaixista oficial, sendo os outros dois mosqueteiros o violonista Bráu Mendonça e o pianista (compositor, cantor, mágico etc.) Tato Fischer. Por falar em Lucia Helena, seu disco mais parece uma novela, o que não difere muito dos de outros caiubistas, como Bárbara Rodrix, Marcio PolicastroTavito... (ô Caiubi, quando é que cês vão lançar CD?)
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Mas voltemos um pouco mais no tempo. Eu dizendo assim, Ayrton pra lá, Ayrton pra cá, parece que o sujeito é apenas um anônimo do bem. E é aí onde reside o x do resíduo! Ayrton (Mugnaini Jr.) já escreveu seu nome na história da música brasileira. Posso dizer mesmo que sua influência se nota na música de muita gente, como, por exemplo, Falcão e Carlos Careqa. Sem falar em nosso Vlado Lima. Pois bem, eu não sou jornalista (Ayrton, sim), então certamente vou meter os pés pelas mãos em datas e informações, mas a verdade é que, se não fosse por mais nada, só o fato de ter sido integrante das bandas Língua de Trapo e Magazine já seria curriculum suficiente pra seu nome ser verbete de enciclopédias sobre música brasileira.

2) Wakai Goeidai (Ayrton Mugnaini Jr.)
TonqKana e Fernanda Takai 
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Por falar em Língua de Trapo, abro um parêntese aqui (cadê o parêntese?) pra dizer que "roubei" um comentário do próprio Ayrton no site do Língua (este) que é interessante pra ilustrar um pouco estas maltratadas. Vamulá: "Em fins de 1980 Laert Sarrumor me perguntou: 'precisamos de um contrabaixista, conhece algum?'. Respondi: 'Conheço um mais ou menos, eu mesmo'. Eu era tão mais ou menos que fiquei no grupo seis meses, daí fui promovido a contrarregra (em todos os sentidos) e, finalmente, compositor até o fim do grupo, no início de 1987. Foram bons tempos que, como todo tempo, bom ou mau, não voltam mais…"
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Mas houve mais, bem mais. Ayrton é um profundo conhecedor, pesquisador, enfim, amante de música (não só brasileira), e, entre outras coisas dignas de crédito, escreveu Adoniran  Dá Licença de Contar..., biografia de ninguém menos que Adoniran Barbosa! E mais, escreveu sobre Rita Lee, Chiquinha Gonzaga, Raul Seixas, a banda Queen (Deixem-me Entreter Vocês), foi responsável pela primeira enciclopédia sobre música sertaneja, colaborou (e colabora) em várias publicações, é radialista, dono de sebo... Ufa! Esperem um pouco, deixem-me entreter vo... digo, deixem-me respirar!
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... E a coisa não para por aí. Se eu ficar aqui listando, vai parecer mais as páginas amarelas do que um texto do Ninguém me Conhece. Falando nisso, tenho a honra de ter como leitor interativo o próprio Ayrton, que vira e mexe deixa aqui seus pitacos, me corrige muitas vezes (e certamente o fará de novo dessa vez), dá sugestões de pauta etc. Certa vez sugeriu nomes pro Ninguém me Conhece, ironicamente dizendo que não sugeria o próprio porque ele era famoso. Esse é o típico humor mugnainiano. Humor que por vezes não é totalmente compreendido, como já notei muitas vezes na M-Música. Mas são ossos do ofício; no dia em que o humor for totalmente compreendido e aceito, deixará de ser necessário. Afinal, é muito chato humor "a favor".
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Pois bem, vou parar por aqui, senão vai ficar parecendo que tô preparando um CV pra ele achar emprego. Quem quiser saber mais, faça o que sempre digo: procure no São Google. Ou, melhor ainda, visite o blog dele, o Mini Blog do Big Mug (Ayrton, pela nova ortografia, agora tem que ser miniblog, junto), também conhecido como www.ayrtonmugnainijr.blogspot.com.br. Ou, ainda, vá a uma dessas noites autorais caiubistas, que a probabilidade de você trombar com ele por lá é de uns, sei lá, como diria Vlado, 86%. Ah, ia esquecendo: daí que há uns dois anos mais ou menos, ele me escreveu dizendo que tinha umas melodias pra me mandar, e eu, de minha parte, mandei uma letrinha pra ele, e, finalmente, oficializamos a parceria. Falta ele registrar as outras, mas uma ele até gravou no disco novo, o Lados-E. Chama-se Samba Funerário, e pode ser ouvida no Trinca de Ouro 5.
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3) Os Metaleiros Também Amam (Carlos Melo - Ayrton Mugnaini Jr.)
Língua de Trapo*
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Disse que ia errar as datas, mas fui ligeiro e não pus datas. Assim que os erros que aqui moram, moram na omissão. Termino no clima, transcrevendo um rodapé que Ayrton deixou na contracapa de um CD seu, uma coletânea de, segundo o próprio, "quase sucessos": "CD só original! Cuidado com os acústicos, ao-vivos em toda parte (até no palco), tributos a Tom, Caetano, Casseta Eller e outros de sempre, 'Fulano convida', reedições marretadas, coletâneas com poucas faixas e informações, enfim, quaisquer lançamentos sem imaginação nem originalidade!". Falou? Papa essa!


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Ayrton também está no Caiubi.
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5 comentários:

  1. Ola, Leo.. é muita coisa mesmo este Ayrton Mugnaini Jr. Faltou aqui o radio matraca, por quem ele é muito conhecido hoje em dia.. Seu humor é devastador.. com a cara de songo.. que ele faz pra gente rir da piada e da cara dele.. é demais..
    O texto seu esta muito bem escrito querido. Quem sabe eu consigo uma parceria dele tb... fico tentando..

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    1. Leo, coloquei no cantinho dos poetas, seu blog, também abri uma pagina publica po Ayrton la, que pus seu blog como referencia!!
      http://www.sonico.com/g/968103514/cantinho-dos-poetas

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    2. Valeu, Lia!

      Deixei um pouco das informações por conta dos leitores, e você, ainda bem, mordeu a isca. rsrs...

      Beijos agradecidos do
      Léo.

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  2. Uau, é bom eu saber que já mereço um texto tão bom... Nem precisei corrigir muito, rerre. E pitaqueando: o vídeo acima de "O Homem Da Minha Vida" é de uma versão lamentavelmente mutilada da canção que o Língua apresentou em shows durante algum tempo; segue abaixo a versão completa da dita.

    http://www.youtube.com/watch?v=M-fJjauWD94

    E, sobre o Caiubi, além de compositor e músico/garoto acompanhante da casa, acumulo a honra de hoje ser um dos diretores do Clube!

    Ah, sim, Lia san, estou lendo teus poemas, seremos parceiros anda este ano!

    Um e-abraço.

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    1. Ayrton, salve!

      Que bom que não "errei" muito no texto. Hehe!

      Já alterei o vídeo.

      Abração (e parabéns),
      Léo.

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