terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os Manos e as Minas: 4) Kana e os Palcos

Escrevo este texto pra ajudar na divulgação do show que deverá ser o último de Kana este ano em território brasileiro. Portanto, o principal é dizer que ocorrerá na quinta-feira, dia 17, a partir das 20h30, no Novo Lua Nova, que está localizado na rua Treze de Maio, 540, esquina com a rua Conselheiro Furtado, no coração do paulistano bairro do Bixiga. Reservas pelo telefone (11) 3263-1015. Kana se apresentará acompanhada por Leonardo Costa ao violão e Evaldo Corrêa na percuteria (percussão + bateria), mas em dois momentos especiais do show haverá a participação de Keiko Kodama (excelente violinista que tem se apresentado com Kana em várias oportunidades nesta segunda metade do ano que praticamente se encerra) e a de Ítalo Queiroz (belo sanfoneiro, cantor e compositor cearense), respectivamente. Também está prevista a participação do compositor nipo-brasileiro Arthur Vital. No repertório, canções de seus três discos, algumas releituras de sucessos populares e algumas canções que farão parte de seu quarto disco, como O Amor Viajou, parceria de Kana com Zeca Baleiro. Pra quem não conhece, O Novo Lua Nova é um charmoso e tradicional bar bixiguense que, além de ser um verdadeiro reduto de artistas nordestinos em São Paulo, possui uma programação de shows da maior relevância na cidade (e uns comes e bebes recomendáveis a preço decente). Ah, a entrada custará 15 pilas. Acrescento que, como se espera o costumeiro público japonês, que costuma ser pontual, o show não deverá começar após as 21h, então, quem quiser prestigiá-lo em sua íntegra é bom chegar cedo.


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Divulgação feita, aproveito pra fazer um balanço do ano de Kana. Este prometia ser um de seus anos mais representativos. O produtor Vasco Debritto garantia que o Imigrante (terceiro disco da cantora) chegaria às lojas ainda nos primeiros meses do ano, o que me animou a marcar-lhe um show de lançamento no Centro Cultural de São Paulo. A coincidência parecia bom sinal, o programador Nílson nos oferecera a data de 20 de maio, dia do aniversário de Kana. Começávamos o ano com o pé direito. E nesse show ainda contaríamos com vários artistas que participaram do disco, Élio Camalle, Tavito, Zeca Baleiro e a uruguaia Samantha Navarro, pra quem marquei dois shows em Sampa, viabilizando assim sua vinda.

Só que, de repente, as coisas começaram a desandar. Tivemos a primeira baixa: por motivos de agenda, Zeca Baleiro avisou que, infelizmente, não poderia participar do show. E o que parecia fácil começou a se mostrar dramático; estávamos com problemas pra conseguir a autorização da editora do cubano Paquito D'Rivera pra que esta liberasse uma parceria nossa. Paquito já dera seu ok, mas a editora, localizada nos EUA, simplesmente demorava de duas a três semanas pra nos responder cada e-mail.

Quando finalmente conseguimos, ainda exultantes de felicidade, descobrimos que faltava ainda uma autorização, a da canção A Paz, parceria de João Donato com Gilberto Gil. Resumo da ópera: o show aconteceu, mas sem o CD oficial. Marcamos novo show, pra dois meses depois, na esperança de que dessa vez houvesse CD, agora no novíssimo 2Santo, também no Bixiga. O show foi um sucesso, casa cheia, participações de Marcio PolicastroKeiko Kodama (de improviso acabou subindo ao palco também Lucia Helena Corrêa), mas... nada de CD.

O que estava ocorrendo, na realidade, era que a gravadora Koala Records, cuja sede é na capital japonesa Tóquio, não andava muito bem financeiramente. Fora mais uma empresa pega de surpresa por conta da tragédia que afetou milhões de japoneses no primeiro semestre deste ano. Se antes disso o Japão já vivia uma forte crise, com mais esta fatalidade, a situação piorou muitíssimo. Vasco, dono da Koala, chegou a me oferecer, por uma bagatela, os direitos do CD. Não aceitei porque soube que, após tanto sacrifício pra conseguir as autorizações, estas perderiam valor, e eu teria que começar tudo de novo.

O impasse parecia sem solução, e a série de shows que esperávamos não ocorreu. Kana, cada vez mais deprimida, ia perdendo aos poucos a vontade de cantar e de compor. Eis que uma boa notícia lhe devolveu, em parte, os ânimos. Zeca Baleiro nos escreveu enviando uma gravação cantada por ele da primeira parceria entre ambos, O Amor Viajou, letra de Zeca, melodia de Kana. Não tivemos como não ficar emocionados com tal gesto de grandeza por parte dele, que, mesmo após o destino incerto do Imigrante, não desistiu de nós. Tal episódio (mais o encontro com a violinista Keiko Kodama) nos fez começar a virar a página e tratar de pensar num novo CD, agora com canções apenas de Kana, pra que não passássemos por novo calvário.

Mais um detalhe tri$te marcou o ano. Quando li o contrato referente aos shows de Kana e Samantha no Centro Cultural, optei por receber os cachês como pessoa jurídica, pois assim receberia os valores integrais, ao contrário do que ocorreria caso recebesse como pessoa física (desconto de 30%). Como Vasco era o dono do disco a ser lançado, fiz o contrato em nome de sua empresa. Havia uma cláusula que rezava que o depósito dos cachês só podia ser feito em conta no Banco do Brasil. Só que, na hora do pagamento, como a conta de Vasco não estava em nome de sua empresa e sim em seu nome, o pagamento foi suspenso, situação em que se encontra até hoje, mesmo após inúmeras (obviamente fracassadas) tentativas minhas. E Vasco, por motivos particulares, não conseguiu abrir conta no bendito banco em nome de sua empresa. Resumo da ópera: paguei artistas e músicos de meu bolso. A bem da verdade, não consegui ainda pagar o cachê de Samantha  pois os bancos brasileiros ainda vivem na Idade da Pedra, e um simples depósito tem se tornado pra mim a mais kafkiana das operações. Vou acabar tendo que ir pessoalmente ao Uruguai pra pagá-la!

Na quarta quarta de outubro fomos convidados a participar do sarau de Tato Fischer, que se chama, por motivos óbvios, Quarta Quarta. Recitei alguns sonetos pra uma plateia composta por mágicos desatentos e bons bebedores, mas quando Kana subiu ao palco vi que diferença faz um artista de carisma. O silêncio se fez pra ouvi-la, e as palmas e os pedidos de bis foram dos mais exaltados. Fui tomado por uma emoção meio misto de alegria e tristeza, pois há uns quinze anos aproximadamente venho acompanhando a mesma reação entre muitas plateias, seja em shows de Kana, seja em participações em festivais, basta que essa criaturinha de pouco mais de metro e meio suba num palco e a mágica (isso, sim, é mágica!) se faça. Não importa se quem a escuta tem 8 ou 80 anos, o prazer estampado em seus rostos é o mesmo.

Kana, além do carisma e da competência, é uma humorista nata. Às vezes até sem querer leva a plateia a gargalhar efusivamente. Da mesma forma, não poucas vezes vi marmanjos sendo levados às lágrimas. A lágrima e o riso. Um artista que tem essa capacidade merece ser reverenciado. E se esse artista é minha esposa é mero detalhe. Não me sinto cabotino absolutamente ao falar dela, pois antes de fisgar seu coração já havia sido fisgado por seu talento. No parágrafo anterior escrevi "misto de alegria e tristeza". Pois bem, a tristeza é por me sentir incompetente, no mais alto grau da incompetência, ao tentar viabilizar sua carreira. A facilidade que tenho com a palavra e os versos é inversamente proporcional à que tenho pra gerir sua arte. Por isso, ali, vendo-a mais uma vez num palco arrebatando um público que, em sua maioria, não a conhecia, enchia-me também de tristeza, ao pensar nas dificuldades do Imigrante (que está pronto há quase quatro anos!) e em minhas dificuldades por propiciar-lhe palcos. Ah, nessa Quarta Quarta estava presente também Pedro Moreno (que se apresentara antes com não menos êxito), que ficou encantado ao ver por vez primeira o brilho de Kana num palco.

Caramba, não imaginei que este texto ia terminar assim em tom confessional de desabafo. Perdoem! Esse caos verborrágico faz parte de meu estilo de escrevinhador. Pelo menos o faço com sinceridade. E com amor. E é com amor que os venho mais uma vez a convidar a prestigiar esse show. Ajudem-nos a manter acesa essa luz que emana de Kana quando está cantando, pois necessitamos desse brilho pra iluminar o fim de um ano tão cheio de escuridões. Por último, sobre o Imigrante ainda, peço desculpas ao público e a todos aqueles que trabalharam com empenho pra que ele se realizasse, contudo, esperançoso como sou, acrescento-lhes que ainda não joguei a toalha!

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P.S. Despeço-me deixando um bom exemplo do carisma de Kana nos palcos: um vídeo de sua participação no Prêmio Sorocaba de Música, sambando e bordando:


Bateria: Fernando Kitagawa

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9 comentários:

  1. Reza a lenda que para se conhecer um povo, sua cultura a melhor maneira é visitar o país deste povo. Acredito que o mesmo se aplica no caso do artista, digo, ir vê-lo,ouví-lo ao vivo e a cores.
    Kana é assim, precisa ser vista, ouvida, uma artista que nos prende, nos enche de alegria e emoçao.

    Brevemente a teremos nos ares de Espanha.

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  2. "Enquanto houver voz sempre haverá um samba a mais..."
    PAZ e $UCE$$o ao casal!

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  3. Valeu, Pedrão! Nos aguarde!

    Gratíssimo, Cláudio!

    Abraços do
    Léo.

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  4. pena nao estar em Sampa...
    abrazos para los dos!!

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  5. Si estuvieras la noche sería perfecta!

    Besos,
    Léo.

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  6. Gostei de saber de Kana e os palcos, e de conhece-la cantando no video. Desejo sucesso. Parabéns. :))

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  7. Léo, que maravilha...que delicadeza...obrigada por compartilhar!

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  8. Valeu, Rita!

    Beijão do
    Léo.

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